Tive dúvidas sobre o título da dar a este poste, mas não as tenho em classificá-lo como uma demonstração de como se pode fazer uma investigação bem sucedida sobre um assunto bem trivial. O início da investigação foi uma série televisiva francesa para adolescentes que terá passado na nossa televisão por alturas de 1974-75. Tratava-se de uma série verdadeiramente kitsch, justamente esquecida, com a canção do genérico a ser cantada por Demis Roussos, a condizer... Chamava-se Le Jeune Fabre.
O que vim a descobrir sobre ela tornou-a muito mais interessante. A série havia sido realizada por uma senhora chamada Cécile Aubry, que no início da década de cinquenta havia sido uma estrela potencial – há quem a considere uma predecessora de Brigitte Bardot! – antes de abandonar a carreira de actriz. Vejam-na nesta fotografia abaixo como capa da Revista Life de Junho de 1950, com as suas bochechinhas de boneca, a fazer-nos lembrar, em mais bonito, Maria de Belém… De qualquer modo, prefiro a BB!
Como acontecera com Rita Hayworth antes dela, que casou com o Príncipe Aga Khan, Cécile também abdicou da sua carreira para casar com o seu príncipe das Arábias, neste caso o filho do Paxá de Marraquexe (cidade de Marrocos), e dedicou-se a escrever para crianças, mais tarde a adaptar os seus livros para televisão, acabando como realizadora de séries infantis. É ela que assina a realização duma série com um pónei de que aqui já falei, chamada Poly que a nossa televisão também transmitiu nos anos sessenta.
Como curiosidade e como se pode ler acima na capa do DVD, nas séries que escrevia e depois realizava, Cécile Aubry habituou-se a dar um lugar destacado de actor ao seu filho, Mehdi El Glaoui. E foi isso que pôde finalmente explicar algo que sempre me havia deixado intrigado na série Le Jeune Fabre. É que, apesar de ser uma série adocicadamente romântica, como era cunho da autora, a submissão ao estilo daquela época obrigava a que se mostrasse também sensível aos problemas sociais, como se pode aperceber pelo episódio abaixo (Um adolescente à procura de emprego).
Mas, por outro lado, mesmo socialmente sensível, sempre me pareceu demasiado precoce que na França de 1973 fosse possível que um jovem com um aspecto magrebino vincado* e com o improvável nome artístico de Mehdi pudesse aparecer como estrela de uma popular série juvenil de televisão, para aquilo que se sabia da tradicional tolerância francesa. Afinal, eram as relações familiares que ajudavam a explicar o fenómeno... Ainda havia de se passarem mais 25 anos para que a França viesse a ter um ídolo nacional incontestado de origem magrebina…
Como acontecera com Rita Hayworth antes dela, que casou com o Príncipe Aga Khan, Cécile também abdicou da sua carreira para casar com o seu príncipe das Arábias, neste caso o filho do Paxá de Marraquexe (cidade de Marrocos), e dedicou-se a escrever para crianças, mais tarde a adaptar os seus livros para televisão, acabando como realizadora de séries infantis. É ela que assina a realização duma série com um pónei de que aqui já falei, chamada Poly que a nossa televisão também transmitiu nos anos sessenta.
Como curiosidade e como se pode ler acima na capa do DVD, nas séries que escrevia e depois realizava, Cécile Aubry habituou-se a dar um lugar destacado de actor ao seu filho, Mehdi El Glaoui. E foi isso que pôde finalmente explicar algo que sempre me havia deixado intrigado na série Le Jeune Fabre. É que, apesar de ser uma série adocicadamente romântica, como era cunho da autora, a submissão ao estilo daquela época obrigava a que se mostrasse também sensível aos problemas sociais, como se pode aperceber pelo episódio abaixo (Um adolescente à procura de emprego).
Mas, por outro lado, mesmo socialmente sensível, sempre me pareceu demasiado precoce que na França de 1973 fosse possível que um jovem com um aspecto magrebino vincado* e com o improvável nome artístico de Mehdi pudesse aparecer como estrela de uma popular série juvenil de televisão, para aquilo que se sabia da tradicional tolerância francesa. Afinal, eram as relações familiares que ajudavam a explicar o fenómeno... Ainda havia de se passarem mais 25 anos para que a França viesse a ter um ídolo nacional incontestado de origem magrebina…
* Aspecto que não tem, por comparação, a actriz Isabelle Adjani, que tem uma idade muito aproximada à de Mehdi El Gloui, também uma carreira precoce, e cujo pai é argelino e a mãe alemã.
É muito boa vontade a sua dizer que Zizou é um ídolo nacional incontestado de origem magrebina.
ResponderEliminarOs seguidores de Le Pen muitos deles "pieds-noirs", não o idolatravam assim tanto.
Num partido (FN) que chegou a receber 3,8 milhões de votos (15% em 1997) e ainda o ano passado recebeu 1,1 (4,3%) costuma haver de tudo, até quem não se importe que Zidane seja argelino. Note, JRD, que o estudo da geografia eleitoral francesa sobre a FN tem algumas surpresas, inclusive alguns bastiões obtidos por transferência directa de votos tradicionalmente do PCF...
ResponderEliminarEntre nós, quando o PCP recebia mais de 1 milhão de votos e resultados de 19% (1979/80) também conheci quem nele votasse e que não se punha com circunlóquios quanto à repressão interna na URSS ou quanto à natureza da sua intervenção no Afeganistão.
Desculpe voltar ao tema, JRD, mas acho interessante um estudo sobre a distribuição dos níveis etários do eleitorado FN a desmentir a correlação com os "pieds-noirs" que estabeleceu.
ResponderEliminarAssim, em 1997, os 15% de votação nacional da FN tiveram a seguinte distribuição por faixas etárias:
18-24 anos: 16% votaram FN
25-34 anos: 19%
35-49 anos: 15%
50-64 anos: 15%
Mais de 65: 12%
Ou seja: a FN teve melhores resultados entre os mais jovens, abaixo de 34 anos. Note-se que entre estes não podia haver "pieds-noirs" porque em 1997, os "pieds-noirs" já haviam sido expulsos da Argélia há 35 anos...
Deixe-me ainda explicar-lhe que, entre os grupos profissionais onde a FN tinha tido melhores resultados contavam-se os "comerciantes, artesãos e industriais" com 26%, seguida dos "operários" (...) com 24%, seguindo-se os "reformados" com 15% e os "quadros médios" com 14%.
Costumava-se ironizar-se com a "demonificação" dos comunistas (quando comiam criancinhas ao pequeno almoço...) mas olhe JRD que discrições que tenho ouvido da composição de partidos de extrema-direita (com expressão, como a FN) é o mais parecido com isso que conheço...
Com um milhão de cabeças para rapar até era uma delícia ser-se barbeiro em França...