12 junho 2008

O "BRAÇO ARMADO" DA ANTRAM?

Foi em Setembro de 1975 que o próprio Verão Quente pareceu arrefecer com o arrepio provocado pelas declarações inesperadas do então Secretário-Geral do PPD anunciando que, caso fosse necessário, o seu partido iria armar 50 mil militantes. Surpreendendo, porque vindo de um partido que se situava na área mais reaccionária do Processo Revolucionário Em Curso (PREC), a explicação para aquela bomba jornalística estaria mais na personalidade do líder do que na natureza do partido.
O autor da declaração chamava-se Emídio Guerreiro, tinha o percurso, e era o herdeiro de uma tradição revolucionária, latina e latino-americana naturalmente desbocada e despreocupada com essas minudências dos braços armados e dos braços políticos de que costumavam falar as cartilhas marxistas-leninistas. Se no ar abundavam aqueles discursos inflamados de confrontação ideológica porque não emitiria Emídio Guerreiro um descarado Vamos a isto, rapazes!, com a subtileza de um Bud Spencer?
Na esquerda, já na altura era diferente, e tem permanecido um seu património usar um outro tipo de desdobramentos de organizações para determinadas funções, umas mais legais, outras menos. Ainda este Verão, na sequência da impopularidade do episódio do milharal dos Verde Eufémia, assistimos a uma interessante dança de Francisco Louçã e do Bloco de Esquerda, sacudindo-se de qualquer ligação à organização do Gualter de que nunca se ouvira falar e de que, suspeito, nunca mais se ouvirá falar…
Novidade mesmo, dado o carácter do patrocinador, foi a organização ad-hoc (designada por Comissão Mediadora de Transportes) de que a ANTRAM se veio demarcar previamente antes de ter começado a confusão da paralisação dos transportes. Foram só precisas 24 horas para se descobrir que a tal organização afinal não organizava nada: mandou cancelar os protestos e ficou tudo na mesma… Sem experiência subversiva, conclui-se que, quando uma organização patronal recorre a expedientes revolucionários,barraca

3 comentários:

  1. Da fina ironia.
    Excelente!
    Não há dúvida que estes epifenómenos são mesmo fenomenais.

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  2. A invocação de Emídio Guerreiro por quem fiquei a ter uma irresistível admiração ou simpatia pessoal desde que o conheci pessoalmente, serve aqui para elevar algumas abordagens da questão dos bloqueios feitos por camionistas. Mérito!

    Mas chamar "expedientes revolucionários" aos métodos intoleráveis usados por alguns daqueles empresários de camionagem, naquele contexto, é voltar à lama. Uma pena. É que nem tinha necessidade. Ou tinha?

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  3. Uma das dificuldades insuperáveis da palavra escrita é a de não poder transmitir as intenções contidas numa transmissão oral.

    Ele há sinais que as tentam substituir mas a constatação é que nem mesmo o recurso à grafia em itálico consegue fazer chegar ao destinatário a ironia que queria associar à expressão "expedientes revolucionários". É que me parecia evidentemente pomposo demais para gestos tão rufias.

    Mas, pena será que, pela mesma causa, se me livro da crítica, também perco o elogio...

    É que os mesmos itálicos irónicos rodeiam as declarações de Emídio Guerreiro e, se alguma conclusão eu gostaria que de ali se tirasse, é que, naquelas circunstâncias do Verão Quente, considero que aquele está muito longe de ter sido um dos momentos altos da sua insigne carreira.

    Sem ironia: que posso concluir? Que não houve necessidade nem mérito?

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