Participante e vencida na Primeira Guerra Mundial, a Turquia foi um dos raros países que, muito perto da acção, conseguiu escapar-se ao envolvimento na Segunda Guerra Mundial. A habilidade negocial do General Ismet Inönü, sucessor de Mustafá Kemal, permitiu-lhe assinar um Tratado de Assistência Mútua com a França e o Reino Unido em Outubro de 1939, mas também um Tratado de Amizade com a Alemanha em Junho de 1941… Foi assim que a Turquia se escapou por entre os pingos da chuva…
Ingrata, a Turquia aproveitou o estertor do regime nazi para declarar guerra à Alemanha em 23 de Fevereiro de 1945, 74 dias antes da rendição alemã… Mas reconheça-se que nestas coisas de política externa não costuma haver moral, porque em 19 de Março desse mesmo ano de 1945, também ainda antes da rendição alemã, foi a União Soviética a denunciar o seu Tratado de Amizade com a Turquia, apresentando um conjunto de reivindicações territoriais nas regiões próximas (Kars, Ardahan) da fronteira comum…
Mas o que interessa é que jogo Alemanha x Turquia das meias-finais de hoje vai ser travado entre adversários que até não são muito inimigos. Claro que a partida se vai disputar num campo que estará inclinado para o lado onde estiver a baliza turca e que os jogadores turcos têm de ter imenso cuidado quando se movimentarem na sua grande área para que não se envolvam naquelas jogadas que são casuais para as selecções dos grandes países, mas grandes penalidades indiscutíveis para as outras…
É preciso não esquecer que a final do último Europeu teve todo o aspecto de um grande fiasco comercial: ninguém (ingleses, alemães, franceses, italianos…) está interessado em ver um jogo com duas selecções de dois países com pouco mais de 10 milhões de habitantes - Portugal x Grécia... Isso dá menos audiência, menos publicidade e menos receitas televisivas. Neste caso, e por acaso, a Turquia até tem muita gente, mas é gente pobre… É um caso transparente para se deduzir qual o vencedor conveniente para a organização.
Mas o que o futebol tem de atractivo é que, ao contrário de todo os outros espectáculos de televisão, este é em directo e não tem a encenação assegurada. Pode ser que tudo corra como o esperado. Pode ter de se fazer com que tudo corra como o esperado: validando o golo ilegal, invalidando o golo legal, criando oportunidades suplementares de marcar com livres e grandes penalidades, expulsando jogadores adversários*. Mas ainda não se conseguiu arranjar meios de que a bola se mova a gosto da organização…
Em suma, apesar de achar tudo aquilo uma gigantesca fraude, mesmo assim gosto de assistir a alguns jogos, mas apenas para vibrar quando tudo aquilo corre mal para a organização, apesar dos esforços. E hoje, correr mal, é a Turquia passar à Final…
* Para levar a selecção da Coreia do Sul até às meias-finais do Campeonato do Mundo 2002 (de que o páis era co-organizador) houve que fazer disso tudo sucessivamente contra as selecções de Portugal, da Itália e da Espanha…
Ingrata, a Turquia aproveitou o estertor do regime nazi para declarar guerra à Alemanha em 23 de Fevereiro de 1945, 74 dias antes da rendição alemã… Mas reconheça-se que nestas coisas de política externa não costuma haver moral, porque em 19 de Março desse mesmo ano de 1945, também ainda antes da rendição alemã, foi a União Soviética a denunciar o seu Tratado de Amizade com a Turquia, apresentando um conjunto de reivindicações territoriais nas regiões próximas (Kars, Ardahan) da fronteira comum…
Mas o que interessa é que jogo Alemanha x Turquia das meias-finais de hoje vai ser travado entre adversários que até não são muito inimigos. Claro que a partida se vai disputar num campo que estará inclinado para o lado onde estiver a baliza turca e que os jogadores turcos têm de ter imenso cuidado quando se movimentarem na sua grande área para que não se envolvam naquelas jogadas que são casuais para as selecções dos grandes países, mas grandes penalidades indiscutíveis para as outras…
É preciso não esquecer que a final do último Europeu teve todo o aspecto de um grande fiasco comercial: ninguém (ingleses, alemães, franceses, italianos…) está interessado em ver um jogo com duas selecções de dois países com pouco mais de 10 milhões de habitantes - Portugal x Grécia... Isso dá menos audiência, menos publicidade e menos receitas televisivas. Neste caso, e por acaso, a Turquia até tem muita gente, mas é gente pobre… É um caso transparente para se deduzir qual o vencedor conveniente para a organização.
Mas o que o futebol tem de atractivo é que, ao contrário de todo os outros espectáculos de televisão, este é em directo e não tem a encenação assegurada. Pode ser que tudo corra como o esperado. Pode ter de se fazer com que tudo corra como o esperado: validando o golo ilegal, invalidando o golo legal, criando oportunidades suplementares de marcar com livres e grandes penalidades, expulsando jogadores adversários*. Mas ainda não se conseguiu arranjar meios de que a bola se mova a gosto da organização…
Em suma, apesar de achar tudo aquilo uma gigantesca fraude, mesmo assim gosto de assistir a alguns jogos, mas apenas para vibrar quando tudo aquilo corre mal para a organização, apesar dos esforços. E hoje, correr mal, é a Turquia passar à Final…
* Para levar a selecção da Coreia do Sul até às meias-finais do Campeonato do Mundo 2002 (de que o páis era co-organizador) houve que fazer disso tudo sucessivamente contra as selecções de Portugal, da Itália e da Espanha…
Caro A.Teixeira:
ResponderEliminarA suíça e a Áustria, países organizadores foram fora da competição na primeira fase.
Pela ordem de ideias deveriam ter passado à segunda fase.Para gerar "entusiasmo" de quem organizava.
Espero que este não seja um post de desculpabilização da medíocre selecção portuguesa, cheia de "incríveis" e "viriatos" e do "melhor treinador do mundo em motivação" que apenas conseguiu ganhar a duas equipas medianas e sair sem honra e glória.
Pelo meio de negociações de contratos, e jogadores a fazerem o papel de estalinistas scolarianos prestando-se a virem para conferências de imprensa falando em profetas da desgraça, e coisas do mesmo tipo...
Dissidente-x
Caro Dissidente:
ResponderEliminarQuanto à ordem de ideias do seu primeiro parágrafo, tem que ter cuidado com as analogias que não fiz. A Coreia e o Japão (Mundial de2002) ou os Estados Unidos (Mundial de 1994), como eventualmente será a China (Mundial de ??), eram mercados promissores que valia a pena entusiasmar, ao contrário do que acontece com os países europeus como a Suíça e a Áustria, já todos "batidos" para o espectáculo futebol.
Quanto à esperança do seu segundo parágrafo, a resposta é não. A vitória alemã (desejada pela organização) foi tranquila. Em contrapartida, nos jogos das meias-finais do Mundial de 2006 e do Europeu de 2000 (ambas contra a França), continuo cheio de dúvidas se os dois lances sancionados com grandes penalidades teriam merecido a mesma sanção se tivessem ocorrido na outra grande área...
Claro que é sempre tudo muito subjectivo e é por isso que eu gosto de desportos cuja classificação depende do cronómetro ou da fita métrica... Aí, há "mais espaço" para os pequenos países.
Hoje a guerra durou 94 minutos e ganharam os do costume.
ResponderEliminarA Turquia foi sendo derrotada aos poucos, não obstante ter ganho os jogos até aqui.
E foi pena, JRD.
ResponderEliminarFoi pena que a Turquia tenha perdido a oportunidade de conquistar um título europeu desta visibilidade só para chatear...
Foi há 30 anos que Israel ganhou o seu primeiro Eurofestival...
A. Teixeira,
ResponderEliminarÉ verdade e nem precisou de ter uma nesgazinha na Europa, bastaram-lhe os lobies e uma qualquer "Hava Nagila".
Mas isso são outras "guerras"...
A.Teixeira: sim em relação a primeira parte do seu comentário; acrescento o Brasil que em 2002 foi autênticamente levado às costas.
ResponderEliminarMundial de 2009 e 2006/França também concordo.
Mas questão é em relação a este e neste quase não tem existido erros de arbitragem.Aliás ontem o único erro claro até prejudicou a Alemanha.
No caso especifico de Portugal houve apenas mais uma oportunidade perdida pelo facto da equipa ser muito mal treinada.
Desportos de cronometro e fita métrica, sim, se só considerado por esse ângulo.
Mas os pequenos países também tem desvantagem ao nível tecnológico do doping.
Aliás, para dar um outro exemplo: em 2006 a equipa americana de futebol corria "demasiado" para uma equipa normal.
O facto de terem estagiado na base americana de Rammstein ; não sei se terá algo a ver com isso, mas corriam muito.
No jogo com a Itália com menos dois jogadores aquilo era correr que nunca mais acabava...
Eu percebi a lógica do argumento comercial e dos exemplos Coreia/Japão, mas neste campeonato, a arbitragem até tem sido melhor.
Em relação a Portugal não alinho na conversa do "fomos prejudicados pela arbitragem" mas sim fomos prejudicados pela falta de trabalho e de qualidade do Sr Scolari.
Faço apenas notar, no que concerne o assunto "doping", que o problema "só" existe onde há efectivamente controlo anti-doping.
ResponderEliminarUm exemplo para reflexão: os jogadores da NBA passam uma época a jogar quase todos os dias com aquele nível de competitividade e revigoram-se apenas a leite com Ovomaltine?