Nas guerras subversivas pode-se atingir um momento crucial em que aqueles que dirigem politicamente os que combatem pela facção clandestina, aquela que recorre à guerrilha, seleccionando o local e o momento de cada batalha, decidem adoptar a atitude de um exército convencional. Na história das subversões, são frequentes os episódios em que essa transição fracassa. No caso dos vietnamitas chega-se mesmo ao paradoxo de que a um sucesso, a Batalha de Dien Bien Phu em 1954 contra os franceses, se sucede um fracasso, a Ofensiva do Tet contra os norte-americanos 14 anos depois, comprovando como são ténues os factores que separam um de outro resultado.
Houve um episódio semelhante que decorreu em França entre Junho e Julho de 1944, que hoje é devidamente evocado mas também está conveniente esquecido nas suas responsabilidades e consequências. Ocorreu em Vercors, um remoto planalto esquecido do Sudeste da França (ver mapa acima), onde se acantonavam um conjunto de guerrilheiros que se evadiam ao controlo militar alemão. Designá-los por guerrilheiros é uma forma simpática de dar significado militar a um conjunto díspar de clandestinos combinando outro conjunto díspar de razões para ali terem ido parar. Em Março de 1944, eram apenas 300 a 400 homens, mas os números não tardaram a aumentar com a repressão alemã.
Contavam-se ali muitos voluntários, e entre eles militares profissionais do exército francês que fora dissolvido pelos alemães em Novembro de 1942. Mas também havia imensos jovens que se haviam tornado refractários ao STO (Serviço de Trabalho Obrigatório) que os obrigava a ir trabalhar para a Alemanha, prisioneiros de guerra que se haviam evadido na Alemanha e que não podiam regressar para casa sob pena de serem recapturados, delinquentes com problemas com a justiça, etc. Mas, ao contrário dos mais conhecidos movimentos da resistência urbana, este, da resistência rural, era enquadrado por verdadeiros oficiais do exército que haviam passado à clandestinidade.
Isso fazia com que o agrupamento fosse mais disciplinado e também mais obediente às directivas oriundas do Governo Gaullista sedeado em Londres. Por isso mesmo também, eram abastecidos regularmente em armamento, munições e abastecimentos pelos Aliados, através de lançamentos em pára-quedas (acima). O Desembarque na Normandia de 6 de Junho de 1944 não foi um dia grande para a reputação da França combatente: entre as centenas de milhares de soldados norte-americanos, britânicos e canadianos que naquele dia foram aerotransportados e desembarcados para terras francesas, a própria França contribuiu com… os 256 fuzileiros do Capitão-de-Corveta Philippe Kieffer (abaixo).
Deste embaraço militar de inegáveis repercussões políticas terá nascido a ideia de lançar uma insurreição no interior da França, promovida por forças exclusivamente francesas e que criasse uma zona libertada, com todo o prestígio político associado ao feito. Em 13 de Junho, com as instruções e apoio material aerotransportado de Londres, os cerca de 4 mil guerrilheiros, até aí clandestinos, começaram a assumir o controlo do território e começaram os combates com as unidades do exército alemão, então ainda em fase de desorganização em consequência do recente desembarque aliado. Mas, com falta de armamento pesado, a situação rapidamente se tornou insustentável para os insurrectos.
Para além da 157ª Divisão de Montanha, os alemães utilizaram forças aerotransportadas em planadores para derrotar os guerrilheiros que resistiam, contornando as posições que haviam sido cuidadosamente seleccionadas pela sua superioridade topográfica. Em finais de Julho, a situação tornara-se insustentável, e o comandante local, o Major Huet, deu ordem aos seus homens para dispersarem, enquanto a repressão dos alemães se saldava, entre combatentes e não combatentes, em cerca de 800 mortos do lado francês, ou seja, uns impressionantes 20% do efectivo inicial. Quanto aos objectivos políticos da operação, para onde até fora criada uma bandeira apropriada (abaixo), foi um fiasco lamentável...
Houve um episódio semelhante que decorreu em França entre Junho e Julho de 1944, que hoje é devidamente evocado mas também está conveniente esquecido nas suas responsabilidades e consequências. Ocorreu em Vercors, um remoto planalto esquecido do Sudeste da França (ver mapa acima), onde se acantonavam um conjunto de guerrilheiros que se evadiam ao controlo militar alemão. Designá-los por guerrilheiros é uma forma simpática de dar significado militar a um conjunto díspar de clandestinos combinando outro conjunto díspar de razões para ali terem ido parar. Em Março de 1944, eram apenas 300 a 400 homens, mas os números não tardaram a aumentar com a repressão alemã.
Contavam-se ali muitos voluntários, e entre eles militares profissionais do exército francês que fora dissolvido pelos alemães em Novembro de 1942. Mas também havia imensos jovens que se haviam tornado refractários ao STO (Serviço de Trabalho Obrigatório) que os obrigava a ir trabalhar para a Alemanha, prisioneiros de guerra que se haviam evadido na Alemanha e que não podiam regressar para casa sob pena de serem recapturados, delinquentes com problemas com a justiça, etc. Mas, ao contrário dos mais conhecidos movimentos da resistência urbana, este, da resistência rural, era enquadrado por verdadeiros oficiais do exército que haviam passado à clandestinidade.
Isso fazia com que o agrupamento fosse mais disciplinado e também mais obediente às directivas oriundas do Governo Gaullista sedeado em Londres. Por isso mesmo também, eram abastecidos regularmente em armamento, munições e abastecimentos pelos Aliados, através de lançamentos em pára-quedas (acima). O Desembarque na Normandia de 6 de Junho de 1944 não foi um dia grande para a reputação da França combatente: entre as centenas de milhares de soldados norte-americanos, britânicos e canadianos que naquele dia foram aerotransportados e desembarcados para terras francesas, a própria França contribuiu com… os 256 fuzileiros do Capitão-de-Corveta Philippe Kieffer (abaixo).
Deste embaraço militar de inegáveis repercussões políticas terá nascido a ideia de lançar uma insurreição no interior da França, promovida por forças exclusivamente francesas e que criasse uma zona libertada, com todo o prestígio político associado ao feito. Em 13 de Junho, com as instruções e apoio material aerotransportado de Londres, os cerca de 4 mil guerrilheiros, até aí clandestinos, começaram a assumir o controlo do território e começaram os combates com as unidades do exército alemão, então ainda em fase de desorganização em consequência do recente desembarque aliado. Mas, com falta de armamento pesado, a situação rapidamente se tornou insustentável para os insurrectos.
Para além da 157ª Divisão de Montanha, os alemães utilizaram forças aerotransportadas em planadores para derrotar os guerrilheiros que resistiam, contornando as posições que haviam sido cuidadosamente seleccionadas pela sua superioridade topográfica. Em finais de Julho, a situação tornara-se insustentável, e o comandante local, o Major Huet, deu ordem aos seus homens para dispersarem, enquanto a repressão dos alemães se saldava, entre combatentes e não combatentes, em cerca de 800 mortos do lado francês, ou seja, uns impressionantes 20% do efectivo inicial. Quanto aos objectivos políticos da operação, para onde até fora criada uma bandeira apropriada (abaixo), foi um fiasco lamentável...
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