10 junho 2008

O NOVO E O VELHO SINDICALISMO

Os defensores de um sindicalismo de futuro, como creio será o caso de João Proença da UGT, propõem que os sindicatos passem a cobrar uma comissão de serviço aos trabalhadores não sindicalizados que venham a beneficiar das condições adquiridas com a contratação colectiva para o sector onde trabalham. É uma ideia bastante interessante, para além de contribuir para resolver os problemas de tesouraria da UGT que devem ser aflitivos.

Não sei é se João Proença estará a antecipar as consequências da ruptura ideológica que a sua proposta contém. Está a propor transformar a sua organização numa espécie de empresa de assessoria para negociações salariais com o patronato. O sindicalismo tradicional mostraria assim aceitar a sua submissão final à lógica de funcionamento das economias liberais. Tirando a designação, muito pouco a distinguirá de uma empresa de lóbi tradicional…

Recusando-se a associar a proposta ao problema de perda de receitas, e sustentando-a em poucos mais argumentos do que a existência dessa comissão em Espanha, João Proença salientou que o importante é lançar o debate sobre a questão. Suspeito que da parte contrária irão adorar um debate assim lançado naqueles moldes ideológicos. Porque não poderá o patronato assumir que se devem despedir os trabalhadores sindicalizados, por serem potencialmente mais caros?…

Pelo contrário, no terreno (sítio que suspeito que João Proença – e não só – já tenha abandonado há muito tempo…), a propósito do lock-out dos empresários de camionagem e da greve dos camionistas, é que parece que continuam a vingar aquelas boas velhas práticas sindicais de um bom piquete que assegure (nem que tenha que cair em cima deles…) que quando uma greve é convocada é para ser cumprida, mesmo pelos amarelos

Ontem, havia um desgraçado na TV que apenas queria ir para casa no tractor do seu camião, deixando a galera no sítio onde o retiveram. Não o deixavam ir e os argumentos eram de uma solidez de PREC: se não estivesse ali retido, estaria longe, em Barcelona, e lá também não teria hipótese de ir a casa (palmas!!)… Ora aí está uma prática sindical onde, ao contrário da gaffe da raça de Cavaco Silva, parece-me haver uma enorme relutância dos destacadas figuras sindicais e políticas em lançar o debate

2 comentários:

  1. O sindicalismo enfrenta problemas muito complexos que extravasam a histórica luta contra o Patronato, assuma este que forma assumir, a “concorrência” desleal dos chamados “amarelos”, que neste momento até é mais prejudicial, e a “dessindicalização”
    Há que reconhecer que as fórmulas, ainda vigentes, carecem de alterações substanciais, com vista a poder enfrentar a globalização e o dilema nacional e universal, que constitui a contradição resultante de que, o que é bom para uns só pode ser obtido à custa do que é negativo para outros. Trata-se de um desafio decisivo que, se não for vencido, acarretará consequências demolidoras para os sindicatos.
    Nota: O João é um “fingidor”, um assinante que, pelos vistos, tem passe de longa duração.

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