21 abril 2021

A MORTE DE JOHN MAYNARD KEYNES

21 de Abril de 1946. Morte súbita, de ataque cardíaco, do economista britânico John Maynard Keynes. Tinha 62 anos. Embora a fase mais conhecida e comentada do seu pensamento e obra abranja o período entre as guerras (1919-1939), Keynes mantivera-se extremamente activo tanto durante a Segunda Guerra Mundial como imediatamente após o seu término. Neste último caso, tentando encontrar as melhores soluções - empréstimos bonificados... - para resolver os problemas de pagamentos do seu país, que terminara o grande conflito (1939-45) financeiramente exangue. Mas foi ainda durante a Segunda Guerra Mundial, em Julho de 1944, que teve lugar a conferência de Bretton Woods (já por mim evocada aqui no Herdeiro de Aécio), onde teve lugar um dos desempenhos mais importantes - e menos conhecidos - de Maynard Keynes, nomeadamente na configuração antecipada do que viria a ser o sistema financeiro mundial do após Guerra (recomenda-se o livro abaixo). Keynes e os britânicos fizeram o que puderam para defender os seus interesses, mas a realidade é que as relações de poder faziam com que tivessem sido os americanos - Harry Dexter White e a sua equipa - a deter as cartas decisivas. O sistema de Bretton Woods, que o livro abaixo mostra a ser disputado palmo a palmo na sua configuração entre Keynes e White - veio a sobreviver 25 anos ao primeiro e 23 ao segundo: terminou, nos seus aspectos mais importantes, em 1971. E, como é costume os intelectuais ingleses fazerem nestas circunstâncias em que as suas opiniões foram historicamente vencidas, a sua avaliação é que o Mundo teria sido muito melhor se as suas teses (as de Keynes) tivessem sido adoptadas em vez das americanas. É o caso, por exemplo, da adopção de uma moeda supranacional (bancor) que fosse utilizada para regular os excessos (défices, mas também superavites) que as economias nacionais registassem nas suas contas externas. Como é natural, não se sabe se esse sistema teria funcionado melhor do que o sistema de câmbios fixos preferido pelos americanos. Mas é também com estas especulações sem contraditório que se forjam os mitos...
A terminar, e num registo que talvez possa interessar o leitor, refira-se que John Maynard Keynes tinha apenas 62 anos quando faleceu. Ora os Keynes ficaram conhecidos pela sua longevidade: o seu pai (que ainda era vivo em 1946) morreu com 97 anos; a sua mãe (que também era viva quando da morte do filho mais velho) morreu com 96; o seu irmão morreu com 95 anos e apenas a sua irmã destoa desta galeria de nonagenários, tendo falecido aos 85 anos. Do ponto de vista estatístico, esta morte precoce de John Maynard terá sido uma espécie de anomalia numa série estatística e Deus sabe quanto uma certa escola de economistas leva as estatísticas muito a sério... Se o modelo econométrico estivesse bem deduzido, John Maynard Keynes não devia ter morrido tão cedo...

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