Foi particularmente esclarecedora (e canónica) a sessão da Circulatura do Quadrado transmitida esta semana. O tema dominante foi, obviamente, o «braço de ferro entre Costa e Marcelo». Primeiro falou Ana Catarina Mendes e defendeu a posição de António Costa; depois falou António Lobo Xavier e «explicou» (para recuperar a expressão acima) a de Marcelo; e, propositadamente deixando-se para falar no fim, José Pacheco Pereira veio salomonicamente explicar à audiência as fragilidades argumentativas de cada uma das duas partes. Não são muitas as vezes em que se consegue observar o figurino do programa num formato assim tão transparente. Ana Catarina Mendes é a apparatchik política: não está lá para ter opiniões pessoais, mas para defender a linha oficial do partido socialista, dando continuidade às funções que se esperam do representante dessa área política naquele programa. As lealdades de António Lobo Xavier são mais difusas assim como como costumam ser mais viscosas as suas argumentações; neste caso ele apresentou-se descaradamente ao serviço de Belém, mas a nota que predomina é a de uma submissão aos interesses das grandes empresas. (Ainda no programa anterior, quando um dos assuntos foi o das barragens da EDP, lá teve o bom do Lobo Xavier que ressalvar que ele também tem a EDP como sua cliente... e que estava condicionado sobre o que poderia comentar sobre o assunto.) E é neste cenário, em que cada um dos seus companheiros se verga a um dos grandes poderes (Ana Catarina Mendes ao político e António Lobo Xavier ao económico), que José Pacheco Pereira pode desempenhar a sua coreografia de actuar como uma espécie de Zorro sem mascarilha em prol das causas bonitas e dos oprimidos. Neste caso, e para que o efeito funcionasse em pleno, ele tinha de falar depois dos outros dois, explicando(-nos) os seus engajamentos. Acresce a isto que, embora não tenha sido muito importante no programa desta semana, de quando em vez, o Zorro também desata a espadeirar contra o quarto poder, representado em cena por Carlos Andrade. E é assim que se mantém desde há muitos anos um programa consistente, com uma audiência fiel embora baixa, porque destinada aos intelectuais (os outros têm o governo sombra e aparentados). São já muitos anos disto, são muitos anos a virar frangos, e cada vez que se coloca a questão de substituir um dos intervenientes, como aconteceu mais uma vez há uns meses com a saída de Jorge Coelho, é escusado estar-se a ventilar nomes de pessoas que consideramos verdadeiramente interessantes de desalinhadas (naquele caso Ana Gomes ou Sérgio Sousa Pinto para ocupar a cadeira socialista) porque o princípio que funciona é o da cooptação e José Pacheco Pereira não quer rivais naquele seu papel de Zorro. E não seria só ele: imagino que, com Ana Gomes no lugar de Ana Catarina Mendes, programa sim, programa não, António Lobo Xavier estaria na berlinda com mais um negócio sórdido de uma grande empresa para o qual ele elaborara um dos seus pareceres jurídicos... Concordarão comigo que, do ponto de vista do espectáculo, é uma pena, porque seriam uma Circulaturas do Quadrado muito mais divertidas que as existentes...
Não dou com a entrada onde se referia aos estranhos galões estrelados de Henrique Galvão, aquando do assalto ao Santa Maria.
ResponderEliminarNa ocasião notei já ter visto coisas parecidas em governadores ultramarinos.
na obra, Os últimos governadores do Império, josé alberty correia surge com o que parecem ser três estrelas em linha por baixo dos galões de coronel. parece ter também uma linha de estrelas sobre os galões, mas a fotografia é de má qualidade
23 de Janeiro de 2021, a assinalar os 60 anos depois do assalto ao Santa Maria.
ResponderEliminarA responder ao comentário que lá deixou, concordei que a sua hipótese é muito plausível.
Ok, muito obrigado. Na altura não reparei na sua resposta, e agora não dei com a entrada.
ResponderEliminarComo encontrei o exemplo concreto, de José Alberty Correia lembrei-me de avançar este dado, ainda que fora de sítio.