27 abril 2021

CESSAR FOGO NA OPERAÇÃO «VINHAS DA IRA»

27 de Abril de 1996. Terminava com a assinatura de um cessar-fogo mais uma incursão - a quarta desde 1978 - das tropas israelitas no Sul do Líbano. Como de costume, a iniciativa fora provocada por uma escalada de agressões e provocações de parte a parte entre os militares israelitas e as milícias xiitas do Hezbollah, com a conivência do exército sírio, também presente no Líbano. Outro exército ali presente são os capacetes azuis da ONU (UNIFIL), estacionados em posições de interposição para apartar os beligerantes, mas que são militarmente impotentes nestas circunstâncias (não dispõem de poder de fogo para intervir). A ofensiva israelita começara a 11 de Abril, a intenção proclamada dos israelitas era pressionar o governo libanês para que este pressionasse por sua vez o Hezbollah. Como era tradicional, os inimigos de Israel não resistiram encarniçadamente no terreno, mas ficaram à espera que as suas tropas cometessem erros que pudessem ser explorados mediaticamente, o que veio a acontecer em 18 de Abril com o denominado «massacre de Qana». Qana é uma aldeia no sul do Líbano onde se localizava um dos aquartelamentos da UNIFIL, aquartelamento esse que estava cheio de refugiados civis quando as tropas israelitas o bombardearam: morreram uma centena de civis libaneses e outra centena ficou ferida para além de quatro funcionários fijianos ao serviço da ONU. Com isso, os árabes haviam conseguido a sua «arma» mediática para o contra-ataque. Os funerais das vítimas (fotografia acima) foram realizados em conjunto e foram uma grande operação mediática, com os caixões todos cobertos por bandeiras nacionais e cartazes negros. Repare-se em três ao fundo da foto; o do centro está redigido em inglês (e não em arábico), para que pudesse ser lido pelas opiniões públicas ocidentais... Do ponto de vista estritamente militar, a operação «Vinhas da Ira» veio a revelar-se irrelevante. O cessar-fogo - que implicava, mais uma vez, a retirada dos israelitas do Líbano - entrou em vigor há precisamente 25 anos. Uma nota final, para o nome escolhido pelos israelitas para a operação, uma expressão empregue no Apocalipse de São João. Não deixava de ter uma certa ironia ver o Estado Judeu a ir recuperar uma expressão bíblica (mas do Novo Testamento! - cristã portanto) para baptizar uma operação militar sua. E no entanto, para a opinião pública americana a expressão é razoavelmente conhecida, mas noutro contexto, como o título de um romance de John Steinbeck de 1939 sobre a grande depressão, transposto para o cinema em 1940. Mas o assunto não parece ter sido explorado, nem os responsáveis israelitas questionados sobre a razão da escolha daquele nome.

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