18 junho 2024

DIA DO CARNAVAL CONTRA O CAPITAL

(Republicação)
18 de Junho de 1999. Coincidindo com a abertura da 25ª Cimeira do G8, que iria começar nesse dia em Colónia, Alemanha, é convocado um conjunto de manifestações anti-capitalistas e anti-globalização para terem lugar em cerca de trinta cidades do Mundo. O título que foi escolhido para as designar - Dia do Carnaval contra o Capital - ainda hoje resulta mobilizador, embora, como é costume neste género de eventos, a identidade dos organizadores continue a permanecer um pouco difusa, permitindo a especulação quanto às suas intenções, para além da contestação pura e simples a um modelo político, económico, social que há vinte e cinco anos parecia não se deparar com alternativas ideológicas sérias. Quanto às manifestações propriamente ditas, onde a de Londres terá sido uma das maiores, senão mesmo a maior, ela terá juntado cerca de quatro mil pessoas (dados policiais), um número insignificante que terá tentado superar esse handicap com a abordagem carnavalesca dos protestos (fotografia intermédia).
Mas aquilo que terá constituído uma revelação na dita jornada de protesto mundial foi a rapidez como a comunicação social mundial se precipitou para lhe dar atenção a partir do momento em que os protestos se tornaram violentos (fotografia abaixo). Parecia ser isso que se esperava que eles - os manifestantes - fizessem e, a partir do momento em que o fizeram, as manifestações ganharam muito mais cobertura mediática do que a que alcançariam se eles se portassem bem. Estava estabelecido um padrão para o século XXI. Uma manifestação anti-qualquer-coisa garantiria cobertura mediática robusta só se os manifestantes começassem a escaqueirar o que tinham à frente e a confrontar-se com a polícia: foi o que aconteceu dali por seis meses na reunião da OMC de Seattle; foi o que aconteceu na cimeira de Praga do FMI e do BM em 2000; foi o que aconteceu na 27ª Cimeira do G8 de Génova em 2001; é aquilo que tem vindo a acontecer, finalmente, embora num contexto nacional e não mundial, com os protestos dos coletes amarelos em França, que se perpetuam sem que se perceba para quê, a não ser deixar as televisões de notícias entretidas ao fim de semana, quando faltam tópicos de que se fale.
E, no entanto, de quando em vez, percebe-se qual é o verdadeiro poder das manifestações de rua quando elas expressam uma verdadeira opinião popular significativa, como o que aconteceu em Hong Kong em Junho de 2019. Quando cerca de 5% da população vem para a rua manifestar-se contra uma medida legislativa indesejada, não é preciso que os manifestantes partam nada, nem baterem-se contra ninguém, para aparecerem nos telejornais. O acontecimento tem um significado político, não é apenas um espectáculo para passar na televisão, é a sério e os poderes políticos percebem o recado.

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