Eu tinha uma tia-avó de nome Floripes, mas registada sob o nome de Floripa, que, talvez por causa disso mesmo, tinha uma grande sensibilidade para os nomes que os governantes poderiam ter. Por exemplo, ninguém a demovia de pensar que o ministro do interior daquela altura, Gonçalves Rapazote (ministro de Marcelo Caetano), nunca poderia, com um nome daqueles, estar à altura do cargo que ocupava:
- Rapazote?! Onde é que já se viu um ministro chamado Rapazote?!
Nem se pense que a minha tia ficava afectada pelo isolamento externo que Portugal sofria na altura. Era vê-la pronunciar-se sobre o desfecho das eleições presidenciais francesas de 1974 onde o mérito todo ia para Jacques Chaban-Delmas, que tinha “um nome muito distinto”, tão distinto que ela, às vezes, se atrapalhava a pronunciá-lo, seguido de Valéry Giscard d´Estaing (que foi quem, de facto, venceu), nome bastante menos distinto, apesar do apóstrofo, e terminando em François Mitterrand que, por muito arrogante que mais tarde se tenha vindo a afirmar, com a minha tia nunca teve sorte nenhuma!
Esta minha tia, de teimosia, nunca saiu do Algarve, nem a Lisboa chegou a ir. Tivesse ela estado em África e teria descoberto uma mina de ouro onde poderia aplicar todo o seu sexto sentido para a questão dos nomes. Sabe quem conhece, que a questão dos nomes em África não tem nada da inflexibilidade do nome registado com que se nasce e morre aqui entre nós. Pode ser uma forma de tratamento que se pode usar durante uma temporada até que perca o vigor e se troque, como uma camisa desbotada.
Este fenómeno acontecia, por exemplo, com a minha mãe, que já representava a ala liberal do regime, e que já deixava o mainato (empregado) escolher o nome de gente que quisesse. Houve um, de que me lembro, que adoptou o nome de Quim (atenção não é o diminutivo de Joaquim, é Quim mesmo!) e que tanto se afeiçoou à nova identidade que continuou com ela.
Estes pensamentos assaltam-nos quando recebemos a visita do actual 1º ministro angolano, que se deixa tratar, afavelmente, por Nandó. Eu bem sei que o cargo de 1º ministro na orgânica do governo angolano nem é assim tão importante. O presidente José Eduardo dos Santos volta e meia tira o que lá está e arranja um novo. Também se sabe que a nomenclatura de Luanda está bem e recomenda-se e que o dinheiro do petróleo não lhes falta…
Agora, já nem falo do estado de choque da minha tia Floripes se ouvisse falar de um 1º ministro chamado Nandó, mas acho simplesmente que não havia necessidade de trazer cá a Portugal um 1º ministro com uma alcunha (Nandó) que os nossos retornados angolanos mais nostálgicos e empedernidos associam automaticamente a um sujeito típico da fauna angolana, designado por calcinha, um tipo imaginativo e cheio de esquemas, mas cá um amigo do trabalho…
- Rapazote?! Onde é que já se viu um ministro chamado Rapazote?!
Nem se pense que a minha tia ficava afectada pelo isolamento externo que Portugal sofria na altura. Era vê-la pronunciar-se sobre o desfecho das eleições presidenciais francesas de 1974 onde o mérito todo ia para Jacques Chaban-Delmas, que tinha “um nome muito distinto”, tão distinto que ela, às vezes, se atrapalhava a pronunciá-lo, seguido de Valéry Giscard d´Estaing (que foi quem, de facto, venceu), nome bastante menos distinto, apesar do apóstrofo, e terminando em François Mitterrand que, por muito arrogante que mais tarde se tenha vindo a afirmar, com a minha tia nunca teve sorte nenhuma!
Esta minha tia, de teimosia, nunca saiu do Algarve, nem a Lisboa chegou a ir. Tivesse ela estado em África e teria descoberto uma mina de ouro onde poderia aplicar todo o seu sexto sentido para a questão dos nomes. Sabe quem conhece, que a questão dos nomes em África não tem nada da inflexibilidade do nome registado com que se nasce e morre aqui entre nós. Pode ser uma forma de tratamento que se pode usar durante uma temporada até que perca o vigor e se troque, como uma camisa desbotada.
Este fenómeno acontecia, por exemplo, com a minha mãe, que já representava a ala liberal do regime, e que já deixava o mainato (empregado) escolher o nome de gente que quisesse. Houve um, de que me lembro, que adoptou o nome de Quim (atenção não é o diminutivo de Joaquim, é Quim mesmo!) e que tanto se afeiçoou à nova identidade que continuou com ela.
Estes pensamentos assaltam-nos quando recebemos a visita do actual 1º ministro angolano, que se deixa tratar, afavelmente, por Nandó. Eu bem sei que o cargo de 1º ministro na orgânica do governo angolano nem é assim tão importante. O presidente José Eduardo dos Santos volta e meia tira o que lá está e arranja um novo. Também se sabe que a nomenclatura de Luanda está bem e recomenda-se e que o dinheiro do petróleo não lhes falta…
Agora, já nem falo do estado de choque da minha tia Floripes se ouvisse falar de um 1º ministro chamado Nandó, mas acho simplesmente que não havia necessidade de trazer cá a Portugal um 1º ministro com uma alcunha (Nandó) que os nossos retornados angolanos mais nostálgicos e empedernidos associam automaticamente a um sujeito típico da fauna angolana, designado por calcinha, um tipo imaginativo e cheio de esquemas, mas cá um amigo do trabalho…
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