05 julho 2024

«SE ISTO É O QUE ELES TÊM EM STOCK, MAIS VALIA COMEÇAREM JÁ A FAZER O LEILÃO!»

Há muitos anos havia um programa de televisão chamado Rock em Stock. Certo dia, a minha mãe entra na sala durante o programa e, ao ouvir os acordes da banda que então tocava, saiu-se com o comentário «Se isto é o que eles têm stock, mais valia começarem já a fazer o leilão!» A frase perpetuou-se até hoje como o exemplo do que não passa de um ensaio medíocre, mau grado a pretensiosidade do título do programa. A intenção do Expresso e da SIC Notícias ao publicitar a entrevista exclusiva ao procurador Rosário Teixeira era mesmo pretensiosa: alegadamente, ele sairia «em defesa do Ministério Público». Porém, ouvindo os 26 minutos da entrevista é melhor, como recomendava a minha mãe, organizarem já o leilão... Apresentado a princípio como «o procurador da Operação Marquês» (a Operação do processo de José Sócrates), o que ele tem a dizer a respeito dos arrastamentos daquilo que os do MP classificam como mega-processos - o de Sócrates vai em 10 anos! - o que ele disse foi isto:

«Não é desejável, mas é algo que nos é imposto pela própria realidade. A realidade impõe-se porque há mega-processos, porque há mega-realidades. E nós não podemos espartilhar a realidade sob pena de nós começarmos a ver as árvores isoladas e depois não vemos a floresta. E estamos a passar ao lado daquilo que pode ser um ilícito porque simplesmente estamos a olhar para... coisas individuais e sem sentido. E aí coloca-se uma outra necessidade, que é a de apreciarmos as... aaahm... as capacidades instaladas para gerir aqueles processos. É óbvio que uma pessoa que tem um processo desses e que tem, ao mesmo tempo, um conjunto de outras responsabilidades e outros processos, não consegue, ou dificilmente consegue concentrar a sua atenção nesse processo ou nesse mega-processo que requer um envolvimento grande.»

A resposta continua, mas, com a transposição da resposta oral para a sua forma escrita, creio que já deu para perceber que se trata de um nada polvilhado de palavras. E ainda por cima eximindo-se de qualquer responsabilidade por dez anos de investigações que até agora se concretizaram em... coisa nenhuma. Socorrendo-me das suas próprias palavras, entre o «algo que nos é imposto pela própria realidade» considerem a mediocridade dos protagonistas que saem «em defesa do MP».

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