22 de Março de 1971. Pedro Rodriguez Peralta era um oficial cubano que fora capturado em Novembro de 1969 numa operação na Guiné. Tornara-se um activo de propaganda do regime português e um embaraço para o regime cubano. Estranhamente, considerada a natureza totalitária mas antagónica dos dois regimes, até havia relações diplomáticas entre Lisboa e Havana, mas o lado português nunca fez tenção de "esticar a corda" a pretexto desta descarada interferência "internacionalista" dos cubanos em assuntos que Lisboa considerava exclusivamente seus. A pessoa do capitão Peralta, que fora capturada seriamente ferido e que fora depois disso tratado e recuperado, representaria, depois de esgotada a sua utilidade propagandística, um fardo. Que fazer com ele? Fora acusado na Guiné da «prática de de crimes contra a segurança do Estado». Mas esse género de acusações, típicas de todos os "subversivos", deveria cair sob a alçada da investigação da PIDE e do julgamento de um Tribunal Criminal. Fora nesse sentido que se pronunciara o Tribunal Militar de Lisboa, que se julgara incompetente para o julgar, já que o réu era militar, mas militar cubano. Agora o processo do capitão Peralta andava de Herodes para Pilatos, um jogo onde se percebiam dois silêncios ribombantes: o do poder político português, que, por detrás das cortinas, não dava directivas ao poder judicial quanto ao que fazer, e o poder em Cuba, que nada fazia para proteger o seu cidadão que fora capturado em circunstâncias manhosas, mas em que cumpria ordens do seu governo. Pedro Peralta só veio a ser libertado em Setembro de 1974, por ocasião do acordo de troca de prisioneiros entre o governo português e o da nova Guiné-Bissau independente. Só a partir daí é que o governo cubano passou a andar com o antigo prisioneiro ao colo, para se redimir dos cinco anos em que fingira que não o conhecia de lado algum.
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