19 maio 2024

IMAGENS DE OUTROS SANTOS PORTUGUESES – 2

70º aniversário da morte de Catarina Eufémia. Republicação
A fotografia acima é um retrato (como então se dizia) típico dos anos cinquenta de uma mulher pobre – uma verdadeira proletária, no sentido marxista do termo – como se comprova pela modéstia dos adornos visíveis que usa: um colar simples com uma medalha. Chamava-se Catarina Eufémia, era uma trabalhadora rural que encabeçava uma manifestação reivindicativa quando foi morta pela GNR em 19 de Maio de 1954 em Baleizão no Baixo Alentejo. A sua condição de proletária e de analfabeta torna muito improvável a afirmação que ela fosse uma militante clandestina do PCP, conforme este último ainda hoje reclama.
Mas uma coisa é certa: o PCP dispôs de outros candidatos a santos mártires pela causa (como será o caso de José Dias Coelho), mas foi nela que apostou decisivamente para esse papel, sobretudo depois do 25 de Abril. Como aconteceu com Ribeiro Santos, a representação de Catarina Eufémia tornou-se estilizada, usando um jogo de padrões claro/escuro que se tornasse reconhecível nas pinturas murais (acima). E houve até quem tivesse ido mais longe e tentado tornar a imagem da Santa um pouco mais misteriosa e atractiva, invertendo-a no seu eixo vertical, como se pode observar neste cartaz abaixo, datado de 1980…
Em complemento ao texto inicial, vale a pena publicar a notícia da época, publicada no Diário de Lisboa do dia seguinte, que dá conta da «impressionante manifestação de pesar» do seu funeral. Como a realidade frequentemente vem acompanhada de ironia, o nome da vítima aparece trocado: Maria da Graça Sapinho, em vez de Catarina Eufémia... O episódio é dado como acidental e o autor dos disparos, o tenente Carrajola, é dado como estando sob prisão, em Évora. E vale a pena assinalar que, pelo conteúdo, parece não ter havido intervenção da censura na publicação da notícia. É um daqueles casos em que agora não se menciona esse aspecto, mas, caso tivesse havido censura à notícia, a propaganda do PCP não deixaria de o realçar.

9 comentários:

  1. Eu, que não professo qualquer “religião”( como as classifica), quando li este poste, lembrei-me do santo ofício.

    Ofereço-lhe estas duas memórias vivas. Se lhe apaziguarem a alma pode chamar-lhes orações:

    http://www.youtube.com/watch?v=9N4IBo_ntUo

    http://www.youtube.com/watch?v=2yZkC3YCU20

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  2. O JRD, na sua modéstia, ao confessar-se "não praticante" e ao deixar-me os links que deixou (e que agradeço) faz-me lembrar aqueles católicos que se confessam "não praticantes" mas que, quando confrontados com uma cerimónia em que tenham de participar (casamento, baptizado, funeral...), mostram saber as orações todas: o Padre Nosso, o Avé Maria, o Credo e até o Salvé Rainha!

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  3. A. Teixeira,

    Já tardava(!) a "insinuação", Meu caro.
    Mas não colhe. Estou vacinado há muito contra essa dedução simplista (sem ofensa) e vulgarizada.

    Sou distanciado mas não equidistante, tal como o A. Teixeira, simplesmente, movimentamo-nos em espaços diferentes, com tendência para opostos. Nada de irremediável.

    E acrescento: os postes selectivamente habilidosos, justificam comentários à altura, passe a imodéstia e o incómodo.

    Aguardemos então a próxima "procissão", se for o caso, mas não conte comigo para andar de joelhos...
    Ah! E sobre as orações, reservo-lhe o "acto de contrição" (se é assim que se chama).

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  4. Deliciosos os comentários feitos nos camarotes lidos aqui da frisa...

    :))

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  5. Seja bem reaparecida, Maria do Sol.

    E de retrato novo!

    ;)

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  6. Estive a vestir-me! rsrsrsr

    Ora, eu nunca desapareci! Só que nem sempre saem palavras, ainda que modestas!

    :))

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  7. Não resisto a deixar aqui 2 registos, salvaguardando o respeito pelo sacrifício de uma morte bem como do sofrimento daí decorrente.
    1 - Abaixo a Catarina Eufémia, Viva a Catarina Eumacho. (piada anarquista)
    2- Os filhos desta mulher, alguém me contou, eram filiados na UDP. Um terrível contratempo para os estalinistas do PC quando se deslocavam a Baleizão a fim de homenagearem alguém que, tanto quanto se sabe, não foi nunca militante das suas fileiras. Ah, e o cabo da GNR que a matou acabou louco e sozinho em estado miserável.
    Como diria o BB: "Eu achei que devia dizer isto"

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  8. Olá, Artur. Voltaste e logo a blasfemar!...

    Assim já não vais para o Paraíso... mas, agora me lembro que já cá recebemos muitos imigrantes ucranianos e moldavos vindos do paraíso que nem se tinham apercebido do sítio bestial de onde vinham...

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