13 julho 2021

O HOTEL EVA É DOS TRABALHADORES! OS CLIENTES SÓ LÁ VÃO ATRAPALHAR!

13 de Julho de 1981. A situação do Hotel EVA, no centro de Faro, era um dos anacronismos mais visíveis do processo das nacionalizações de 1975. Embora os governos revolucionários de Vasco Gonçalves não quisessem interferir de forma alguma na actividade hoteleira, o hotel acabara na posse do Estado porque fazia parte de uma empresa rodoviária (EVA - Empresa de Viação do Algarve, Lda.) que, essa sim, fora nacionalizada em 1975 conjuntamente com todas as grandes empresas de transporte rodoviário de passageiros. E fora assim que a Rodoviária Nacional EP, que resultara do amalgamento de todas essas transportadoras distribuídas por todo o país, recebera de bónus, um hotel para gerir, conjuntamente com empresas de táxis e de automóveis de aluguer e até uma famosa florista(!) na Rua da Prata em Lisboa... Meia dúzia de anos depois, como se pode ler pela notícia, procurava-se rectificar essas aberrações, no caso cedendo a exploração do hotel EVA a uma empresa privada vocacionada para o fazer. A questão é que os «trabalhadores (estavam) dispostos a lutar contra o desmembramento da empresa». A verdade é que a empresa não estava a ser «desmembrada». Pelo contrário, o hotel é que representava uma excrescência numa estrutura gigante vocacionada exclusivamente para a gestão do transporte rodoviário. Mas a comissão de trabalhadores, completamente dominada pelos comunistas, não queria saber dessa evidência para nada. A iniciativa era para ser bloqueada e começava por ser bom pretexto para os sindicalistas convocar dois plenários de trabalhadores, um em Faro (naturalmente...) e o outro... em Lisboa (que a questão do hotel de Faro poderia preocupar os motoristas, cobradores, mecânicos e restante pessoal sediado na capital...). Quando se lê esta notícia do Diário de Lisboa, que descreve o bloqueio dos sindicatos em termos medonhamente benignos, até parece que a razão da existência do hotel era possuir trabalhadores, e que os eventuais clientes só lá iam para atrapalhar os direitos dos trabalhadores! Ai do hóspede que reclamasse porque o bife estava mal passado!... Aliás, por alguma razão, se forjara a reputação que toda a hotelaria para lá da Cortina de Ferro possuía os empregados mais ineficientes e antipáticos de todo o Mundo! Uma daquelas conquistas de Abril que, felizmente, Portugal não chegou a conquistar...

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