18 maio 2020

UM CONGRESSO EXTRAORDINÁRIO COMO HABITUALMENTE

18 de Maio de 1990. Início do XIII congresso (extraordinário) do PCP em Loures. Tudo aquilo que o partido defendera durante décadas ruíra fragorosamente na Europa comunista (seguir-se-á a pátria do socialismo propriamente dita), mas isso parecia ser irrelevante, porque em Portugal ser-se comunista não era uma opção política, mas antes uma profissão de fé. Nesta fotografia acima da cerimónia de encerramento realizada dois dias depois, o pontifex maximus caminha humildemente para o lugar mais destacado do altar, que os acólitos directos ciosamente conservaram para si. Quanto aos outros, aqueles fiéis que haviam substituído a confiança no clero pela leitura das escrituras e que pensavam que o partido incorporaria as lições do que estava a acontecer, «a porta da rua era serventia da casa» como se percebia logo no primeiro dia de trabalhos por estas notícias do, já algo distanciado, Diário de Lisboa. Como acontecera cinquenta anos antes do lado oposto do espectro político com Salazar, esta obediência devota também era uma maneira de «viver-se habitualmente» na extrema esquerda não democrática portuguesa.

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