07 abril 2020

O JULGAMENTO DE UM CASO ANTIGO - OS ESTUDANTES, AS TELEFONISTAS E OS POLÍCIAS

7 de Abril de 1930. O facto de destacar esta notícia de há precisamente 90 anos são as circunstâncias que a rodeiam. O conteúdo dela pode ser apreciado mais abaixo, mas o que importa destacar é que os factos em julgamento haviam acontecido seis anos antes, envolvendo estudantes do Liceu Camões, telefonistas da APT e polícias da PSP. Importa também perceber que ser-se estudante de liceu em 1924 era sinónimo de se pertencer às classes privilegiadas da sociedade portuguesa. Aquilo que se adivinha por detrás da notícia, é que o julgamento, ao fim de seis anos, representará o culminar de um prolongado braço de ferro entre as acções  judiciais intentadas pelos pais dos alunos que haviam sido agredidos à espadeirada pela polícia, e as autoridades policiais, que haviam criado todas as possíveis medidas dilatórias para que o julgamento não viesse a ter lugar. Finalmente o julgamento começou e, com muita pena minha, não consegui descobrir qual terá sido a sentença. Mas desconfio que toda a galhardia de Ferreira do Amaral em defender a corporação policial não se terá conseguido sobrepor à denúncia (óbvia) dos abusos exercidos. Tradicionalmente esses abusos eram esquecidos mas, mesmo em ditadura mas com estas vítimas oriundas das classes ricas, o mais provável é que os polícias tenham acabado por ser mesmo condenados. Sempre houve uma justiça para ricos e outra para pobres. 

Iniciou-se hoje, no Tribunal Militar Territorial, em Santa Clara, o julgamento de um caso que há cerca de seis anos deu que falar em Lisboa.
Recordemo-lo para mais elucidação do leitor.
(Abaixo o título da notícia original de 1924 do mesmo jornal)
Alguns alunos do Liceu de Camões costumavam por aquele tempo juntar-se à porta da Central telefónica, na rua Andrade Corvo, que fica perto daquele estabelecimento de ensino, parece que para se intrometerem com as meninas dos telefones, as quais, aguardadas à saída do trabalho, eram crivadas de declarações de amor pelos irrequietos estudantes.
Até que um dia – foi em 13 de Março de 1924 – tendo alguém pedido providências à Polícia, compareceram no local nove guardas da Segurança Pública.Ou porque os rapazes refilassem ou por qualquer outro motivo que o Tribunal averiguará agora, a breve trecho armava-se um conflito de tomo, do qual resultou ficarem vários académicos feridos à espadeirada.
Os pais dos agredidos, levaram o caso para o Tribunal, e daí o julgamento de agora, em Santa Clara, onde compareceram como réus os guardas cívicos Francisco Marques de Carvalho, Ilídio Mendes Ferrão, Manuel Gervásio Marques, Manuel Luís Alves, o sub-chefe da P.S.P. João Martins, Carlos Agostinho de Almeida, já retirado da corporação, Manuel Alves Salgado, e António Rodrigues Pereira, da Investigação Criminal.
Os réus são todos defendidos pelo comandante da Polícia, sr. coronel Ferreira do Amaral.

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