19 de Abril de 1995. Atentado de Oklahoma. Provocou 168 mortos e mais de 680 feridos. Mas o que de mais importante o atentado me veio mostrar foi a constatação de como a ideologia americana - the american way - também produzia as suas aberrações radicais, naquele caso consubstanciada na surpreendente banalidade do percurso de vida do principal autor do atentado: Timothy McVeigh. Por décadas a fio, e sobretudo ao longo dos 45 anos que durara a Guerra Fria, os Estados Unidos haviam conseguido vender a imagem que o terrorismo doméstico era um fenómeno que praticamente não os afectava. Houvera fenómenos pontuais, quase caricatos, como o exército simbionês de libertação (que raptara a herdeira Patrícia Hearst e a pusera a assaltar bancos), mas nada houvera que se equiparasse à seriedade e gravidade das acções de organizações como o IRA no Reino Unido, a ETA em Espanha, as Brigadas Vermelhas em Itália ou a RAF na Alemanha Ocidental. Fora essa a versão que se construíra e consolidara quanto aconteceu este atentado, cujo autor reclamava ter perpetrado em nome dos valores mais entranhadamente americanos da América. Não se tratava de uma organização ao estilo europeu, mas era patente que não era preciso uma para causar uma devastação como a que se registara. Por detrás deste atentado, e por detrás das naturalíssimas reacções de repulsa, instalou-se um ambivalente silêncio quanto a discuti-lo na perspectiva ideológica. Seis anos depois, em Setembro de 2001, essa ambivalência veio a expor-se em toda a sua hipocrisia: com os atentados contra o WTC, já se podia ser cristalino quanto ao que motivara os terroristas, quem haviam sido os maus, onde é que estavam os bons.
Sem comentários:
Enviar um comentário