Domingo, 22 de Abril de 1945. É neste dia de há 75 anos que tem lugar no bunker de Hitler a famosa reunião em que ele terá tido um enorme ataque de raiva ao aperceber-se que as ordens que emitia já não eram obedecidas. A cena, reconstituída no filme A Queda (Der Untergang, de 2004), tornou-se em muito mais do que um sucesso cinematográfico: tornou-se um verdadeiro meme da internet a que frequentemente se recorre para enfatizar ou parodiar a inaceitabilidade de qualquer coisa. Sessenta anos depois de ter acontecido (ou não...) incorporou-se a convicção generalizada que Adolf Hitler terá tido aquele momento revelador do seu colapso iminente. Por acaso, as fontes desdobram-se em versões distintas quanto ao que terá acontecido naquele dia e quanto ao que terá sido a reacção do Führer.
Existe um completo consenso quanto à impossibilidade do que poderia ter resultado da actuação das forças sob o comando do obergruppenführer Steiner, uma heterogénea vintena de milhares de homens, desde tripulações dos navios de guerra, ancorados agora inutilmente no Báltico, até voluntariosos estudantes de liceu. Mas faltava-lhes tudo o resto: blindados, artilharia, camiões, combustível. Para enfrentar as colunas blindadas soviéticas só dispunham de armamento ligeiro, munições racionadas, granadas de mão e os panzerfaust, esses sim de utilidade. Longe de poderem atacar de Norte para Sul como Hitler lhes mandara, o que eles tiveram que fazer foi recuar para não serem atacados no seu flanco esquerdo pelas colunas soviéticas que se aproximavam de Leste.
As diferenças começam pela forma como foi comunicado a Hitler a notícia do insucesso da ofensiva de Steiner e, sobretudo, a reacção daquele à notícia. Convém ter presente que, entre os participantes directos da proclamada fúria de Hitler (aqueles que permaneceram na sala), o próprio Hitler, Martin Bormann, os generais Krebs e Burgdorf irão morrer ainda antes do fim do fim da guerra; os dois únicos sobreviventes (provisórios...) serão o marechal Keitel e o general Jodl. Serão eles os únicos a deixar depoimentos do que acontecera, antes de virem a ser executados em Nuremberga em 1946. E os depoimentos de ambos são mais sóbrios quanto à reacção que Hitler terá tido. Foi um choque mas terá sido menos histriónico. O que ambos ressaltam que dali saiu de importante foi o anúncio da sua decisão de que afinal não iria sair de Berlim quando tudo estava preparado para que ele abandonasse a capital para se refugiar em Berchtesgaden, no extremo Sul da Alemanha. O isolamento de Hitler numa cidade cercada, quiçá impossibilitado de comunicar com o exterior, mudaria muita coisa do ponto de vista político na Alemanha nazi. E foi por isso que, presentes na antecâmara, o general Christian da Luftwaffe se apressou a telefonar a Hermann Goering, o almirante Voss telefonou de imediato a Karl Doenitz, o embaixador Hewel pôs-se em contacto com Ribbentrop e o brigadeführer Fegelein avisou Heinrich Himmler. Esse frenesim telefónico é plausível e até mesmo provável que tenha tido lugar há precisamente 75 anos. A fúria de Adolf Hitler, que foi tão bem interpretada pelo actor Bruno Ganz, essa queremos acreditar que sim.
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