24 fevereiro 2020

OS RACIONAMENTOS E A FALTA DE CARNE

24 de Fevereiro de 1945 (mas também nos outros dias...). Há 75 anos e com a Segunda Guerra Mundial em curso, as dificuldades de abastecimento eram, não apenas uma das prioridades, como também um dos assuntos que mais despertavam a atenção dos lisboetas. Nestes exemplos recuperados de páginas interiores do Diário de Lisboa, mostra-se um acompanhamento rigoroso à quantidade de animais abatidos diariamente no matadouro municipal («7 rezes bovinas, 2 vitelas e 400 carneiros» ou «11 bois, 19 vitelas e 800 carneiros») , num zelo que só se comparará nos dias que correm à publicação dos números do sorteio do euromilhões. Tanta era a atenção dada ao assunto que a aparição na paisagem urbana de uma manada assim mais compostinha com animais para abate, mesmo que de aspecto escanzelado, podia ser um bom tema para uma fotografia. Melhor: havia mesmo um acompanhamento posterior quanto ao destino das carcaças desmanchadas: para onde teriam ido «as pernas, as costelas, os lombos e as barrigas» dos porcos cujas cabeças (e apenas as cabeças) haviam chegado aos talhos naquele dia?... Isto é que é verdadeiro jornalismo de investigação.
Olhem se os nossos actuais jornalistas tivessem investigado os critérios de atribuição dos casos no Tribunal da Relação de Lisboa com o mesmo zelo como estes seus antecessores andaram à procura das fêveras daqueles porcos... Se tivesse sido assim, o juiz Rangel não tinha tido sorte nenhuma, suponho. 

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