15 junho 2019

MAIS DO QUE DE POETAS E TAXISTAS, SOMOS UM PAÍS DE «JORNALISTAS»

«...eu, ao contrário do Daniel Oliveira, não faço política. Eu escrevo sobre política. Eu falo sobre política. Eu critico políticos. Mas eu não faço política. Certamente que não escondo o meu posicionamento ideológico, e com certeza que dou palpites sobre o que devem ser as prioridades do país. Mas nunca fiz, não faço e não creio que venha a fazer “política”. O que eu faço, com muito orgulho, é jornalismo. Não no sentido estrito do termo, de dar notícias e saber o que diz A e o que diz B, mas no sentido geral, de contribuir de forma independente para uma compreensão do país, oferecendo chaves de interpretação úteis a quem me lê e a quem me ouve.»


A aceitar esta «chave de interpretação» que nos «oferece» João Miguel Tavares então tenho que admitir que José Manuel Fernandes até é mesmo um jornalista, que o Observador é mesmo um jornal, que até o Avante! o pode ser (outro jornal...), se se levasse a sério aquela perspectiva da oferta das «chaves de interpretação» aos leitores e ouvintes. Mas mais do que isso, e extrapolando para lá do ramo, é muito frequente, cada vez que apanhamos um táxi (ou um uber), depararmo-nos com um jornalista ao volante, disposto a fornecer-me as tais «chaves de interpretação» para «uma compreensão do país» enquanto dura a viagem. Desse, do do João Miguel Tavares ou do do Daniel Oliveira, há jornalismo por todo o lado; pena que o outro, o «do sentido estrito do termo», que se encontra nos jornais propriamente ditos, seja frequentemente uma merda. Eu tenho uma ideia do que é jornalismo: não preciso de pedir a João Miguel Tavares nenhuma «chave de interpretação». Mais: tenho a certeza que a dele está errada.

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