22 setembro 2018

QUE NEM VASOS DE FLORES...

Confesso que, quando me encontro diante de bibliotecas alheias, dedico quase tanta atenção aos livros que as compõem, quanto à usura das lombadas das obras - nem todas! - expostas. Descobri que era tão instrutiva a composição quanto a utilização de uma biblioteca. Copiei a fotografia da esquerda de um facebook de alguém que arrogantemente a usou como ilustração de uma entrada a que deu o título «A arrumar o Marcelo numa prateleira». O pretexto próximo terá sido a traição que Marcelo terá cometido a uma certa facção da direita política que encanitou que a salvação do regime passava pela manutenção de Joana Marques Vidal como procuradora. Os livros arrumados e acima exibidos serão portanto do próprio traído, mas o que me chamou a atenção foi o aspecto de quase flor de cunho das lombadas dos dois exemplares de «A Revolução e o Nascimento do PPD» (2000). Pelo menos, a comparar com os exemplares cá de casa (acima, do lado direito), onde se notam os vincos das leituras e sucessivas consultas destes últimos dezoito anos. Uma utilização normal para uma obra em que Marcelo Rebelo de Sousa contava as suas experiências e que ainda hoje permanece uma referência de consulta para aquele período histórico revolucionário (1974-75) em que o PSD ainda se chamava PPD. (Nem de propósito, o enfâse dado à antiga sigla do partido realçava colateralmente que Pedro Santana Lopes, que era o rival de Marcelo na altura e que passava o tempo a encher a boca com a denominação PPD/PSD, nunca militara no partido quando ele se denominava PPD...) Refira-se aliás, quanto obras como a de Marcelo são importantes, quanto o período dos primeiros dez anos de vida do PSD, até à ascensão de Cavaco Silva, permanecem - propositadamente? - nebulosos ainda nos dias que correm. Ainda esta semana precisei de auxílio recapitulativo sobre esse mesmo período, quando apareceu um artigo no Observador que se socorria da história do PSD e que, conforme desconfiava, a respeito dos acontecimentos dessa década inicial do PSD, continha a sua basta quantidade de asneiras... Mas, para voltarmos aos livros e aos proprietários que conseguem preservar as suas lombadas da forma mais imaculada, feito que só se consegue estimando particularmente os livros ou nem sequer os lendo, importa confessar que o aspecto daqueles livros só me surpreendeu pela circunstância de o seu proprietário ter construído uma reputação nas redes sociais dedicando-se à traulitada política... E eu julgava que as condições propedêuticas de acesso a tal actividade, haviam sido, no caso em apreço e dada a pose, mais exigentes. Só que isto de ver os livros expostos para enfeitar e sem uso, quais vasos de flores, é indício que, diz-me a experiência, nunca me enganou: uma biblioteca que exibe livros com lombadas tão imaculadas quanto aquelas é porque o proprietário a tem para a exibir.

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