14 setembro 2014

PARA QUE DEPOIS NÃO SE DIGA QUE NÃO SE HAVIA DITO

A multiplicação dos interessados na Espírito Santo Saúde, integrado num grupo económico reputado pela sua debilidade financeira, parece ser sinal demonstrativo de quão altas vão as expectativas quanto àquela área de negócio. Várias explicações existirão para tanto optimismo, mas isso não pode constituir autorização para que as instituições que operam nesse ramo da saúde privada devam exibir desde o presente aquilo que serão apenas ganhos potenciais. Um exemplo grandioso (e a expressão é aqui empregue em mais do que um sentido...) é a Fundação Champalimaud que, desde o seu arranque e dedicada precisamente à área da saúde, não se tem furtado a esforços para alcançar uma notoriedade pública que chegou mesmo a ofuscar a da Fundação Calouste Gulbenkian, a única que, em Portugal, parecerá capaz de com ela rivalizar.
A verdade, porém, é outra e avaliar-se-á de uma outra forma que através das aparências da arquitectura das sedes ou da cobertura mediática dada às cerimónias que patrocina. É pela evidência das circunstâncias, que se reconhece que o legado de António Champalimaud nunca pôde ter a mesma robustez (financeira) da do multimilionário arménio. Mas, mais importante para o que aqui se trata, o estilo de gestão de Leonor Beleza parece não estar a revestir-se dos mesmos cuidados de discricionariedade e de proporcionalidade que marcaram a gestão de Azeredo Perdigão a partir de 1956. As contas não costuma(va)m mentir: enquanto a Fundação Calouste Gulbenkian registou nos dois últimos anos (2012 e 2013) resultados positivos da ordem dos 150 milhões em cada um desses anos,…
...a Fundação Champalimaud tem registado desde o arranque prejuízos sucessivos que, até 2012 (ainda não estão disponíveis as contas de 2013 no seu site…), se cifraram cumulativamente em quase 50 milhões. Valha a verdade que há que reconhecer como a Fundação Champalimaud ainda possui mais de 300 milhões de capitais próprios para desbastar antes de ser obrigada a ter resultados positivos. Mas também é verdade que, diante destes números, nos questionamos se não pode ponderar se a actuação de Leonor Beleza à frente da Fundação – por sinal, uma escolha do próprio António Champalimaud – não estará a ter muito mais exuberância do que eficácia. Mas posso apostar que, se e quando isso se vier a tornar público, também aí, Cavaco Silva dirá que desconhecia o que se estava a passar…
O tempo passa, parece ser a senilidade que chega e, com o caso do BES de que falámos ao princípio, têm-se acumulado as distracções de alguém que se ufanava da presciência de ter identificado o Monstro (défice) antes de todos os outros, ainda em Outubro de 2000.

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