Os distúrbios e a guerra que culminaram com a independência do Bangladesh terminaram em 16 de Dezembro de 1971, há quase precisamente 42 anos (acima). Contudo, apesar de todos esses anos decorridos, a nação dos bengalis muçulmanos transmitiu recentemente para o exterior uma imagem do quanto os dilemas da existência do país não parecem ainda superados, ao anunciar-se a execução de Abdul Quader Molla (abaixo), responsável por violações e assassínios em massa (344) ocorridos em 1971, durante o período que precedeu a Guerra de Independência. Repare-se que, à época dos factos, o executado, que agora tinha 65 anos, contava apenas 23. E que, ao contrário de alguns julgamentos tardios de algozes nazis, o paradeiro e a identidade de Abdul Quader Molla foram sempre conhecidos ao longo de todos estes anos.
O fio condutor que explica e conecta o passado e o presente é o Jamaat-e-Islami, organização islâmica de que Abdul Quader Molla foi militante (e agora dirigente destacado) desde sempre. No Jamaat-e-Islami sempre se considerou que a religião (islâmica) era mais importante que a nacionalidade (bengali) para a definição das relações comunais no subcontinente indiano. Era em concordância com esses princípios, em 1971 o Jammat opunha-se ao movimento secessionista que no Bangladesh se opunha ao Paquistão. Na altura, Abdul Quader Molla terá sido um dos militantes responsáveis por uma repressão contra os independentistas e contra minorias religiosas (sobretudo hindus) que, mesmo as fontes mais prudentes, estimam ter causado entre 300 e 500.000 mortos civis, mais um morticínio que passou desapercebido no Ocidente.
Uma das fotografias mais significativas desse morticínio que agora parece regressar à actualidade política bangladeshi (acima, o autor é Rashid Talukder) reproduz de uma certa forma simbólica essa alheamento, porque a face inexpressiva no meio dos tijolos se assemelha à primeira vista a uma máscara descartada até nos apercebermos que aquilo foi um ser humano. Também os cautelosos 300.000 (há quem mencione 3 milhões de) mortos civis se tendem a dissolver nas muitas centenas de milhões que povoa(va)m o subcontinente indiano até nos apercebermos para comparação e naquela mesma região da comoção provocada pelos cerca de 200.000 mortos em consequência do tsunami de 26 de Dezembro de 2004.
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