Depois de perguntar a um deles, que niquelava um dos hemisférios, o que ele estava a fazer, um dos generais perguntou-lhe como é que ele tinha a certeza que o metal que estava a trabalhar era plutónio. A primeira resposta do cientista foi teórica, académica, que ele conhecia e acompanhara todo o processo para a sua obtenção¹, portanto tinha a certeza que se tratava de plutónio. A resposta não satisfez um dos generais que lhe contrapôs: como é que ele poderia assegurar que a peça não fora substituída por outra de ferro. Aí, o cientista pegou num contador Geiger e apontou-o para o hemisfério que começou a craquejar assustadoramente: - Está a ver? Está a emitir partículas alfa!
- Mas o núcleo pode ser de ferro e ter apenas uma camada exterior de plutónio para o contador Geiger registar os estalidos! – disse um outro general. O cientista estava a ficar incomodado², pegou no hemisfério e fez tenção de o entregar aos generais: - Peguem nele, está quente! Foi então que um dos generais rematou o como seria facílimo aquecer uma peça de ferro. Num desespero ousado, o cientista sugeriu que o general se sentasse com o hemisfério nas mãos durante as próximas 24 horas para verificar se ele arrefecia ou não… O desafio não foi aceite mas a resposta parece ter satisfeito os visitantes que não voltaram a insistir mais naquela questão.
Desconfio que não serei o único disposto a apostar que àqueles generais nunca lhes terá passado pela cabeça a impressão de obtusidade que causaram, apesar do esforço que fizeram para produzirem o resultado oposto. Se, num mundo ideal, aquele género de controvérsias nunca deviam ter existido, considerado o desequilíbrio de conhecimentos das duas partes, no mundo real felizmente elas existem – algumas também aqui nos blogues… – para benefício da nossa boa disposição. Conseguir-se ser estúpido na forma como se procura provar aos outros que se é inteligente parece-me ser a expressão mais cómica, sublime e patética da estupidez.
¹ Como expliquei aqui, o Plutónio é um elemento obtido artificialmente.
² Recorde-se que a conversa tem lugar em 1949, na União Soviética de Estaline, aquele paraíso das mais amplas liberdades democráticas… e, reconhece-se agora, alguns excessos.
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