A Guerra que conduziu à independência da Namíbia (1966-1988) é uma das menos documentadas de entre as Guerras modernas. Comprovando-o, a entrada de Wikipedia que a ela se refere
é parquíssima em informações concretas, mesmo
a de língua inglesa não é muito melhor e, significativamente, não existe entrada em africânder, que é o idioma associado ao regime de supremacia branca sul-africano que foi o contendor derrotado dessa guerra. Por tudo isso, o livro abaixo é uma raridade...
The Covert War tanto esclarece quanto é um desapontamento. Esclarece no sentido em que explica detalhadamente – demasiado até, para aquilo que eu procurava – os aspectos tácticos de um conflito que, afinal, se arrastou por 22 anos. É um desapontamento porque se trata de um depoimento de um veterano, Peter Stiff, um sargento de origem londrina que optou pela nacionalidade sul-africana, que escreve sobre aquilo que conhece mas não se quer arriscar – felizmente! – a ir para além disso.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJf5FbNARDhj4EBS8BgicMhFi7LDUHDt9FGWc7yBUp9c8sLjBQwSNJkQXN0QraqF5zvvUy8IAuE37B74UUnxiNW5gYwVYWLtUysa4WGv0w1-TjS5CzRsRmjKHhkJ-Nt2pmu0JW/s400/Namibia.JPG)
Lendo a descrição do território onde a guerra se travou, extensíssimo, com 825.000 km², a fronteira com Angola, por onde se processavam as infiltrações dos guerrilheiros da SWAPO (acima) tem 1.376 km de extensão, semi-desértico e com a densidade populacional a rondar os 3 habitantes por km², é impossível não se fazer a associação com outras zonas de operações semelhantes das guerras coloniais portugueses como o Leste de Angola (que aliás lhe está adjacente) ou o Noroeste de Moçambique (Niassa).
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgt3uLADplA_Rtuq4Yko93HaaSEUB4n_4RXR0HBik20DcE435hXwWGND3Ka_Z1ArtJH09eKWv5ZmBVkAd6zewQPSLUEMcusYAgEgxE936PL4eRYeTu1MNtMrEBWa0D4w6A1Y5v/s280/Casspir2.JPG)
Como acontecia com os portugueses, também aqui a intensidade do conflito era baixa e as acções esporádicas. Isso permitia aos sul-africanos criar a ficção que o problema estava entregue às forças policiais. O
Koevoet do título, o nome da unidade especial a que pertencia Stiff, era tecnicamente uma unidade policial encarregada da contra-subversão, embora as fotografias que aqui aparecem (acima, a de um treino) mostrem como seria difícil distinguir os
polícias dos soldados regulares da
SADF.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisQCf8U8VLYrIWSKa74f8ud35vlX4siwzbcZeiVFM5Cibb4EwMhSaMYx1jk39XyQm5TvGhJagjYl-slZ9d_VLNsyHgCYV7IK9ZwY6fygp8CrKYcHmQRlJ_mM5VvezIEChMko4-/s280/Casspir4.JPG)
Outro aspecto interessante é o do período coberto pelo livro, de 1979 a 1989, ou seja cinco anos depois do fim das Guerras de África dos portugueses. É possível seguir ali a evolução técnica da guerra e descobrir algumas soluções para problemas que também afligiram os portugueses: o das minas, através da utilização de viaturas de transporte apropriadas para o efeito como o
Casspir (acima), reforçadas, mais elevadas e com o fundo em forma de V para dispersar para os lados o sopro da explosão das minas.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifi3lZqolcx3Ob19H-zEkirMN3i5a3ltOa927ygKlmChyphenhyphenU2xazYTaHWWrvFagHuV8H6yT-B1J4lXxgjOVXKhIBAFYcJvw5LOk8QIyK4VZ5IRCv2VHDuC6Y-mlgcGXiDHC6FxYS/s280/Casspir5.JPG)
Ou então, um novo sistema de exaustão para os helicópteros
Allouete III (acima, numa evacuação médica) que os tornavam muito mais difíceis de ser
reconhecidos (e de ser abatidos…) pelos
mísseis terra-ar SAM-7 dos guerrilheiros. Em questões de material de guerra, também aqui os sul-africanos, tal como acontecia connosco, continuavam a considerar a sua captura e exposição como um sinal de
sucesso com o seu cortejo tradicional de
AKs,
RPGs e
SKSs e outro armamento de origem soviética (abaixo).
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgH7b0vDz0Eg6MaR6nIjJwbZ38x2WFd9KtKCaZr44Yhn9meLZpxZnXIv0PCs0Q1XjJTJHYEPYSKalIt9j9zuRUmQ6StHRke4WHpApow9MDKfEDMd4380YCk1DKeIkfiig68qpD7/s280/Casspir3.JPG)
Mas, por muito que a
Koevoet se possa orgulhar nesses 10 anos de guerra dos 1.615 contactos com o inimigo, nos quais abateu ou capturou 3.225 guerrilheiros da
SWAPO, pagando o preço de 160
polícias mortos e ainda mais 949 feridos em combate – a maioria dos quais namibianos negros conforme se pode deduzir pela fotografa abaixo – é a
SWAPO que acaba por vir a ganhar a Guerra e a explicação para essa desfecho é que não aparece no livro apesar das suas 480 páginas…
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxSGUMEmAml1ScQg1MbMQyFgUaYTrOJTxFTYT1w5n5-ehwOV9EF0mYyBSd2tvyCHkhfeXOk4Ah3v0bLsNIEig9WJlX_tXpOPwSeWW_KAdqGec_CHEx_q6Fs5PtakfC5vizQaf-/s280/Casspir1.JPG)
Por um lado: é pena. Obrigar-me-á a estar atento ao aparecimento de um novo livro sobre este tema, mas que o analise na sua perspectiva global, política e militar. Por outro lado: ainda bem. O autor, singelamente, cinge-se aos aspectos do conflito que domina, que as complexidades de uma Guerra subversiva não serão para todos… É um exemplo de modéstia para outros veteranos das nossas guerras que tendo paticipado na derrota quando do original,
vencem-nas agora quando as revisitam na memória.
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