18 julho 2008

NELSON MANDELA – 90 ANOS

Mesmo pouco dado a efemérides e a personalidades consensuais, gostava hoje de assinalar neste blogue o dia em que se cumprem os 90 anos de Nelson Mandela, nem que seja para que esse assunto seja um bom pretexto para que eu realce aquilo que me parece uma confusão muito comum na sociedade portuguesa entre o que deve ser o respeito e a veneração por uma figura e uma apreciação objectiva sobre quais são as suas reais capacidades.
Ainda ontem li uma opinião que classificava o professor Adriano Moreira (a caminho dos 86 anos) como o nosso melhor especialista em relações internacionais. Poder-se-ia tratar de um caso excepcional de longevidade, não pudesse eu juntar outros casos, como o do nosso melhor cineasta Manoel de Oliveira (a caminho dos 100) ou o nosso melhor futebolista Luís Figo (a caminho dos 36), mais a falta que ele faz à selecção
Poderia aqui multiplicar os exemplos, que costumam ser normalmente acompanhados da alusão à melhoria da qualidade com o tempo, como o Vinho do Porto… Só que os ciclos da vida são implacáveis e as grandes figuras não estão destinadas a envelhecer em cascos de carvalho: nascimento, crescimento, maturidade, decadência e morte. É uma inércia, muito nacional, aquela que nos leva a recorrer sempre os mesmos nomes...
Os problemas da África do Sul podem servir de exemplo daquilo que nos distingue do resto do Mundo. É que ali existe um potencial problema político enorme entre as duas alas do partido dominante, o ANC*, chefiadas respectivamente por Thabo Mbeki (acima) e por Jacob Zuma (abaixo). E suponho que também haverá sul-africanos que se terão lembrado do regresso da figura veneranda de Nelson Mandela para atenuar essas tensões…
A diferença entre a África do Sul e Portugal (lembram-se da candidatura de Mário Soares - a caminho dos 84 - à presidência?...) é que, entre nós, os proponentes de tais soluções que apenas pretendem congelar a evolução dos acontecimentos costumam ser levados a sério e os que são propostos também se costumam levar a sério… Agora a sério: as figuras venerandas (como o aniversariante Nelson Mandela) são para venerar; mantenhamo-las no pedestal...
* African National Congress (Congresso Nacional Africano), o partido no poder na África do Sul.

3 comentários:

  1. Sei que não foi essa a intenção, mas esquecer Saramago não o apaga.
    (Este computador já tem todos os sinais gráficos, mas eu continuo longe)
    bfs

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  2. Não sei se sou eu que estarei desatento, se já estarei imunizado, mas não fiquei com a impressão que se tente qualificar cada novo livro de José Saramago (a caminho dos 86) como "outra" obra-prima, ainda mais "prima" que as anterores...

    Dito isso, os exemplos que dei não eram exaustivos, apenas exemplificativos, com especial relevo para o de Luís Figo, para demonstrar que não se trata apenas de uma questão de "terceiras idades".

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  3. Se experimentar ler "As intermitências da morte", por exemplo, talvez mude a impressão.
    O que é isso de obra prima?...

    Quanto ao Figo, não estará na terceira idade, mas já está maduro... ;)

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