16 abril 2010

O AVIÃO QUE EMBATEU CONTRA O ARRANHA-CÉUS

Durante 41 anos (de 1931 a 1972) o Empire State Building (acima) com os seus 102 andares e 381 metros de altura foi o edifício mais alto de Nova Iorque e dos Estados Unidos. Isso aconteceu durante aqueles anos (que dificilmente voltarão...) em que ser-se o primeiro nos Estados Unidos era sinónimo de o ser também à escala mundial. E por 56 anos (de 1945 a 2001) houve uma nota de pé de página na história daquele famoso edifício a que só os curiosos prestavam atenção...
Em finais de Julho de 1945, o Mundo estava numa espécie de interlúdio militar, depois da Vitória dos Aliados sobre a Alemanha que tivera lugar em 8 de Maio e quando se concertavam as operações que conduziriam à inevitável derrota do Japão. O primeiro teste nuclear decorrera com sucesso em 16 de Julho em Alamogordo (acima), mas isso era um segredo. Pelo contrário, as atenções da imprensa mundial estavam concentradas na Conferência de Potsdam, na Alemanha (abaixo).
Em Nova Iorque, o dia 28 de Julho era um Sábado de nevoeiro apesar de já se estar em pleno Verão. Cerca das 9H30 da manhã, o tenente-coronel que pilotava um bombardeiro B-25 (como o da fotografia abaixo), que levantara voo de Boston nessa mesma manhã, pediu autorização para aterrar no Aeroporto La Guardia. Mas a torre de controlo do aeroporto informou-o que as condições de visibilidade eram nulas. Mesmo assim o piloto insistiu em fazer a aproximação à pista…
Foi um erro. Não se vendo um palmo à frente do nariz, às 9H40 o bombardeiro B-25 acabou por embater contra a fachada norte do Empire State Building à altura do 79º andar, que está situado a uns 300 metros de altura. Sendo Sábado, o edifício continha (felizmente) apenas umas 1.500 pessoas em vez das 10 a 15.000 que ali estariam num dia útil. Em consequência do embate e do incêndio que imediatamente deflagrou (abaixo) houve 14 mortos (3 no avião, 11 no edifício) e 26 feridos.
Dessa vez, os bombeiros conseguiram controlar o incêndio em 40 minutos. Não foram os únicos profissionais à altura da situação. Ernie Sisto, um destemido fotógrafo profissional, acompanhou as equipas de salvamento e, ultrapassando os dois andares onde se dera o principal impacto, conseguiu, pendurado dos parapeitos e agarrado pelas pernas por dois ajudantes, tirar a fotografia que serviu de capa ao New York Times do dia seguinte. Uma notícia importante, mas local…
A criação de cada vez melhores critérios de segurança tornaram cada vez mais improváveis a hipóteses de choques acidentais de uma aeronave contra um edifício. Até 11 de Setembro de 2001… Os acontecimentos daquele dia fizeram com que o episódio de Julho de 1945 readquirisse importância e os leigos questionassem que diferenças houvera entre os incidentes para que o Empire State Building se tivesse aguentado com um buraco na fachada (abaixo) e as torres do WTC tivessem colapsado.
As explicações são várias, mas começam logo pela diferença entre a violência dos embates. Enquanto o B-25 era um bombardeiro que podia atingir um peso máximo de 19 toneladas e uma velocidade máxima de 450 km/h, os Boeing 767-200 (abaixo) que embateram contra as torres gémeas podem pesar até o sêxtuplo disso e voar a uma velocidade dupla. O efeito combinado dos dois factores terá transformado os impactos de 2001 entre 50 a 150 vezes mais violentos do que o de 1945…
Depois do 11 de Setembro, cada embate de uma aeronave contra um edifício é pretexto para mais um momento de histeria mediática. Que me lembre, já aconteceu em 2002 no Edifício Pirelli de Milão e tornou a acontecer em 2006 nos Apartamentos Belaire em Nova Iorque¹. Em ambos os casos tratava-se de pequenas aeronaves e, por tudo o que acima ficou explicado, a identificação dos aparelhos é crucial para os estragos causados – e para a relevância jornalística! – pelo acidente…
¹ Desses eu não me lembrava, mas há também o de 2002 em Tampa e o de 2010 em Austin.

3 comentários:

  1. Também podemos multiplicar a quantidade de combustível transportada. Os aviões desviados tinham sido abastecidos, na costa este, para destinos na costa oeste.

    ResponderEliminar
  2. O peso e as contas referentes ao peso já incluíam o combustível. No B-25 o peso máximo à descolagem eram as referidas 19 toneladas (9,2 em vazio) e no Boeing 767-200 entre 136 e 143 toneladas dependendo da versão (81 toneladas em vazio e um máximo de 20 toneladas de carga útil).

    ResponderEliminar
  3. Desses também só me lembrava do embate no edifício Pirelli (o que logo motivou entrevistas imediatas aos jogadores portugueses que jogavam nos clubes milaneses...).

    Há outra característica do Empire State Building relacionada com meios aéreos: a longa "agulha" que está no cimo e o caracteriza, e que serviria para amarrar Zepellins. Creio que com o declínio desses aparelhos, isso nunca chegou a acontecer. Seria um espectáculo curioso de se ver.

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.