26 abril 2007

CRÍTICA DE CINEMA

Além de nostálgico confesso, sou daqueles que não se incomoda nada em rever a mesma obra pela enésima vez à procura de lhe esmiuçar mais um pormenor que escapara de todas as outras vezes anteriores. Eu sou daqueles que, em O Pai Tirano, consegue citar de cor a deixa da Dona Cândida que serviria para a entrada do vilão em cena (Barroso Lopes):
- Nunca, Edmundo!... O Dr. Vasconcelos jurou-me (e aqui a Dona Cândida faz uma saudação fascista para abrir de seguida o braço esquerdo num gesto amplo, igual ao dos antigos polícias sinaleiros cabeças de giz, apontando a porta) que ao soar da badalada da uma hora na Torre de São Deniz… entraria nesta sala! (Gong) Ei-lo!...

E ainda me consigo rir das caras de parvo de Barroso Lopes e Vasco Santana depois de levarem na cabeça com o martelo de madeira com que o Sôr Machado fazia soar o gongue da badalada… A isto chama-se resistência à saturação...
Outra coisa distinta é este novo hábito de passar o filme Capitães de Abril todos os anos no dia 25 do dito. Como, de resto, já aqui escrevi há um ano, a começar por aquela sopeira que, pelo vocabulário que emprega, só poderia estar a tirar sociologia nas aulas nocturnas do ISCTE (...), o filme é medíocre de tão inverosímil. Bem sei que somos um país pequenino que não se pode dar ao luxo de ter muitos filmes sobre um mesmo assunto, mas é senso comum reconhecer como filmes mal feitos saturam muito mais rapidamente que os outros.

3 comentários:

  1. O "Pai tirano" em tiradas memoráveis; a recordo, por exemplo, a de Vasco Santana, com ar austero, desconfiado e cabotino: "Diz-me, Edmundo, quem é aquela menina que além vejo e que por sinal entrou quando tu"?
    Mas a que ficou para a posteridade é provavelmente a do mordomo: "Ó inclemência, ó martírio! Estará periclitante a saúde deste rico e querido menino, que eu ajudei a criar?"

    ResponderEliminar
  2. Parabéns pela memória!

    Só tenho uma ligeira dúvida de pormenor na frase do Seixas: não seria qualquer coisa "Ó inclemência! Ó martírio! Estará porventura periclitante...?

    Para o verdadeiro espírito da peça, nem nas perguntas que faria para si mesmo se podia permitir que o bom velho Joaquim fosse assim tão assertivo...

    ResponderEliminar
  3. Creio que se trata apenas de fazer desse filme o mesmo que fazem do “Ben-Hur” na quadra pascal... Têm assinatura!

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.