22 novembro 2006

O TEMPO EM QUE FESTEJAVAM O DIA DOS MEUS ANOS!...

Nunca apreciei nem me senti confortável com o comércio informal – é um eufemismo... – e os regateios associados que me deixam sempre a sensação de ter sido aldrabado. Tenho uma sensação semelhante, que estou a lidar com pessoas – neste caso organizações - sem um pingo de seriedade, quando as televisões alteram, sem pré-aviso, as suas programações, quando intercalam intervalos com comerciais com uma duração quase superior à do programa original ou quando encadeiam os programas uns nos outros sem intervalo.

A minha relação com a TVI, por exemplo e depois de vários incidentes menores, só recentemente se tornou saudável. Conclui que os seus programadores não me englobavam como objectivo para os programas que transmitiam e que, por isso, seria sempre perda de tempo pesquisar quais seriam as suas propostas. Todas estas considerações me surgiram a propósito de uma notícia recente sobre legislação a aprovar que pretende que – salvo em condições excepcionais - as televisões só possam alterar a programação com mais de 48 horas de antecedência sobre a hora da sua emissão.

E o que talvez mais impressione seja a argumentação contrária, das televisões, defendendo que quem quer regulamentar sobre isso se está a imiscuir numa área em que não o devia fazer, como se se acusasse alguém de ser sobre intervencionista. Ora eu creio que este descaramento nasce também da segurança de quem antecipa que, houvesse uma verdadeira intenção em moralizar as práticas televisivas ora condenadas, bastaria invocar certos aspectos da legislação existente para sancionar fortemente as televisões, dissuadindo-as de as manter.

Portanto antecipa-se que será para que tudo fique rigorosamente na mesma… Deixem-me ao menos ser nostálgico e irónico, parafraseando um pequeno trecho do poema Aniversário, que Fernando Pessoa fez atribuir a Álvaro de Campos:

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
A programação da TV andava regularmente atrasada – mas era a que vinha no jornal!
Havia intervalos entre e a separar os programas transmitidos
Onde a sua duração raramente excedia os cinco minutos.
E eu tinha a grande saúde de nem saber o que era fazer
zapping.

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

1 comentário:

  1. Existe agora uma respeitável criatura a quem puseram a alcunha de "Provedor do Espectador".
    Provador de "morangos" seria talvez mais apropriado para o senhor que se limita a receber queixumes pois não tem o menor poder para pôr na ordem os responsáveis(?) dos vários canais que fazem o que bem lhes dá na gana e ainda lhes sobra tempo para mais anúncios.
    Este Provedor, por sinal, é tão fraquinho que até pronuncia o C da palavra espectador...

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.