20 novembro 2006

ONDE É QUE VOCÊ ESTAVA EM 1990?

Num artigo da secção da Sociedade do jornal Público, tive oportunidade de ler o perfil de um dirigente sindical do Sindicato dos Professores da Região Centro (SPRC) chamado Mário Nogueira. Intitulado O incansável dirigente de “estilo duro”, o artigo, que está orientado de uma forma globalmente simpática para com o perfilado (orientação a que não fui insensível), chamou-me sobretudo a atenção pelo pormenor da forma como evoluiu a sua carreira.

Assim, Mário Nogueira deu aulas durante 10 anos, de 1980 a 1990, filiou-se no SPRC em 1982, e tornou-se dirigente sindical a tempo inteiro (tendo deixado de dar aulas) há 16 anos, desde 1990… E eu dei por mim a perguntar-me onde eu estava em 1990, quem era o 1º ministro em 1990 (Cavaco Silva) e a especular sobre quem seria o ministro da educação nessa altura. Fui ver: Roberto Carneiro (1987-91).

Depois dele seguiram-se Diamantino Durão (1991-92), Couto dos Santos (1992-93), Manuela Ferreira Leite (1993-95), Marçal Grilo (1995-99), Oliveira Martins (1999-2000), Santos Silva (2000-01), Júlio Pedrosa (2001-02), David Justino (2002-04), Maria do Carmo Seabra (2004-05) e Maria de Lurdes Rodrigues (2005- ). Como se vem a perceber pelo artigo, uns mais e outros menos, das reuniões de negociação todos eles Mário Nogueira conhece. Em experiência e antiguidade, ele só perde mesmo para Carvalho da Silva, que há 20 anos dirige a CGTP...

São percursos como este aqui exemplificado que transformaram os sindicalistas em castas profissionais marginalizadas, embora menos visíveis e, por isso, menos vilipendiadas do que as dos políticos. Lê-se a certa altura uma citação de Mário Nogueira: às vezes tem saudades de dar aulas… Suponho que deva ser muito simples abdicar do seu estatuto de dirigente sindical e voltar à escola da Pedrulha, Coimbra, onde é efectivo, para tornar a dar aulas e viver directamente as dificuldades dos que representa. Mas será que é isso que ele gosta de fazer ou preferirá realizar-se a representar os que o fazem?...

2 comentários:

  1. Há muitos anos, por duas vezes, representei os trabalhadores de empresas onde trabalhei.
    Numa dessas circunstâncias, ouvi um "colega" explicar que o nosso papel era protestar e reivindicar sempre, independentemente de ser ou não justo,razoável e fundamentado o que reclamássemos.
    Protestar e reivindicar, tal era a forma de justificar e garantir a condição de representantes do Pessoal.
    Foi há quase trinta anos e nada mudou.

    ResponderEliminar
  2. Há 30 anos os profissionais do protesto podiam dizer que incentivavam ao protesto por razões ideológicas.

    Actualmente, os profissionais do protesto são... profissionais do protesto com 30 anos de experiência!

    ResponderEliminar