23 abril 2024

«MY BOY LOLLIPOP»

Há canções que que sabemos que sabemos, sem saber porque é, ou como é, que as sabemos. Mas estão cá dentro do ouvido. É o caso desta «My boy lollipop», um sucesso na Europa em ritmo cafrializado (mais tarde classificá-lo-ão de ska) e que já tem sessenta anos.

SEBASTIÃO É JORNALISTA, NA OPINIÃO DO JOÃO MIGUEL TAVARES

O artigo de opinião de hoje de João Miguel Tavares no Público aplica-se em desancar em Sebastião Bugalho por causa da notícia que o dá - a Bugalho - como próximo cabeça de lista do PSD às eleições europeias. Mas aquilo que eu mais gostei aparece na caixa de comentários do referido artigo. Ao comentário de um - pelo menos para mim - incógnito Paulo Batista, que recusa o atributo de jornalista a(o) Sebastião (uma forma de tratamento que, para mim, indicia proximidade com o visado), o autor apressa-se a responder - dez minutos depois - qualificando-o como jornalista: É jornalista, sim.

Retiro pelo menos duas conclusões interessantes do episódio. A primeira é que João Miguel Tavares se levanta bastante cedo: o seu comentário data das 06:25 da manhã. A segunda é que estaremos perante uma divergência de opinião intransponível: não vale a pena discutir este assunto, assim como não valeria a pena discutir com Donald Trump as eleições presidenciais que ele perdeu em 2020. É ridícula esta elasticidade que, tornaria possível classificar Sebastião Bugalho como jornalista, e que tornaria por sua vez possível que José Miguel Júdice ou Luís Marques Mendes fossem classificados como jornalistas, estes talvez só jornalistas em part-time, mas mesmo assim...
(Outro jornalista...)

A GOLPADA

Terça-Feira, 23 de Abril de 1974, 21h45. Estreia do filme A Golpada, enquanto O Golpe estava previsto para dali a dois dias...
E precisamente por causa d'O Golpe (e da torrente noticiosa que ele veio a desencadear), a crítica ao filme A Golpada só veio a ser publicada mais de três semanas depois da estreia...

SE ISTO É UMA «RENOVAÇÃO A 100%», VOU ALI E JÁ NEM VOLTO...

Se a renovação, conforme o PS a pretende impingir, é uma renovação total da lista socialista, então esta fotografia acima de Maio de 2014, exibindo Francisco Assis como o cabeça de lista do PS àquelas eleições arrisca-se a ser uma fraude. Ou então não é. E o que aconteceu é que esta renovação é uma renovação em relação à anterior renovação (de 2019), mas que envolve elementos como Assis, que tinham sido a renovação anterior (de 2014) a essa última renovação. Como se pode apreciar pela foto, a renovação de 2014 chamava-se mudança, mas a ideia parece assemelhar-se. Embora com muito menos impacto, esta confusão da mensagem da renovação a 100% com elementos de anteriores renovações, convenhamos, colocará as renovações das listas europeias do PS assim como as anunciadas reduções do IRSque foram propostas pelo PSD... De qualquer maneira, considero muito judiciosa esta despromoção de Francisco Assis em relação a 2014, aparecendo agora em segundo lugar atrás de Marta Temido, porque de 2014 para cá tem dado entrevistas - a inclusa na imagem acima é do Verão de 2020, em plena pandemia - em que se tem mostrado assaz imaginativo, nomeadamente no respeito histórico que devemos manifestar por Pedro Passos Coelho, tópico inoportuno de discutir nos tempos que correm.

22 abril 2024

SE HÁ PREDICADO QUE NÃO PODEMOS ATRIBUIR AO CABEÇA DE LISTA DA "AD" ÀS EUROPEIAS É O DE MODESTO...

Um entusiasmo arrogante que só é compreensível por causa dos seus 28 anos... em que se tem fartado de aparecer na televisão.
A sério e numa certa perspectiva acaba por ser uma excelente decisão de quem escolheu: o nome do cabeça de lista consegue, só por si, fazer com que eu me desinteresse saber quem são os outros 20 nomes da lista do PSD!... A lista é do PSD, o CDS está reduzido a uma espécie de clube do bolinha do Nuno Melo e foi tratado no congresso deste fim de semana de forma correspondente, precisamente pelo Sebastião Bugalho e por outros quejandos como ele.

Para que tudo fique ainda mais caricato nesta promiscuidade entre comentadores políticos e políticos comentadores, um colega de canal do novel cabeça de lista do PSD anunciara, no canal de televisão que os alberga aos dois e que é, aliás, o que acima dá esta notícia, anunciara um outro cabeça de lista, adicionando mais um à lista de gloriosos fiascos televisivos da SIC Notícias!

AS OFENSIVAS DIPLOMÁTICAS DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

(Republicação)
22 de Abril de 1944. Um par de notícias de conteúdo aparentemente anódino numa das páginas centrais da edição do jornal desse dia, dá conta daquilo que era uma discreta, mas violenta, ofensiva diplomática por parte dos Aliados para que alguns países neutrais cortassem o fornecimento de alguns itens considerados vitais para a indústria de armamentos do III Reich. Numa das notícias, originária de Ancara, dava-se conta da reacção da Turquia a essas pressões, suspendendo as exportações de minério de crómio para a Alemanha, invocando a sua própria condição de aliada da Inglaterra. Noutra, oriunda de Londres, era a Suécia que ainda não respondera à nota dos Aliados, em que se lhe era pedido que suspendesse as exportações de esferas de rolamentos para a Alemanha. Havia uma campanha de bombardeamento em curso para destruir a capacidade de as produzir no próprio território alemão, e a indústria de armamentos alemã havia recorrido ao reforço das importações da Suécia para suprir as carências. A resposta sueca irá ser tão evasiva que a importância e as consequências dessa decisão ainda hoje são objecto de discussão académica: a Suécia colaborou ou não com a Alemanha? Contudo, a Turquia e a Suécia não eram os únicos países neutrais a serem pressionados naquela altura pelos Aliados: dali por mês e meio, na edição de 7 de Junho, era ocasião para ser notícia o anúncio pelo governo português da suspensão das exportações de volfrâmio para os países beligerantes. Fazia-o a pedido da Grã-Bretanha. Repare-se como os Estados Unidos pareciam nunca aparecer nestas iniciativas...

A CHEGADA DO «PRÍNCIPE PERFEITO»

22 de Abril de 1964. Confesso que foi com muita satisfação que acabei por descobrir estes registos antigos do movimento do porto de Lisboa para conseguir precisar que foi há 60 anos que o paquete «Príncipe Perfeito» acostou e desembarcou os passageiros. Eu era um dos passageiros e, como já aqui escrevera, a minha primeira passagem do Equador foi no sentido Sul-Norte.

21 abril 2024

A ELEIÇÃO DE VOLODYMYR ZELENSKY

21 de Abril de 2019. Na segunda volta das eleições presidenciais ucranianas, o candidato Volodymyr Oleksandrovych Zelensky, de 41 anos, vence-as com 73% dos votos. Na primeira volta, que fora disputada por nada menos do que 39 candidatos (!), Zelensky, já fora o candidato mais votado, com 30% dos votos. Uma vitória de tal amplitude reflecte-se no mapa eleitoral (abaixo): Zelensky foi o candidato mais votado em quase todo o país, com excepção da região mais ocidental do país. Note-se também, no mesmo mapa, as regiões que já estavam então ocupadas pela Rússia e onde não pôde haver eleições, que aparecem assinaladas a cinzento.

20 abril 2024

NUNO MELO, A "HELOÍSA APOLÓNIA" DO PSD

Segundo o que a Lusa pôs a circular, o CDS realiza o seu 31º Congresso este fim de semana em Viseu. Não havendo sequer simulacro de disputa pela liderança, o evento parece que irá decorrer perante o desinteresse geral, mesmo dos aficionados deste género de disputas políticas. O António José Teixeira ou o Sebastião Bugalho, por exemplo, não parecem dispostos a estragarem este fim de semana para irem para Viseu dizerem coisas ao fundo do pavilhão onde decorrem os trabalhos. - como acontecia no passado. Quem os viu e quem os vê... aos do CDS, já que aos outros - Teixeira, Bugalho e os outros da mesma laia - ninguém dará nada por eles se não se fizerem ser vistos, só que tem de ser nas ocasiões em que haja mesmo quem os esteja a ver, mesmo que estejam a dizer baboseiras como neste segundo caso imediatamente abaixo... Com estas significativas ausências (note-se que a imagem abaixo de António José Teixeira é do 27º congresso do CDS...), o CDS tem todo o aspecto de se ter transformado num has been para o comentadorismo político doméstico.
Noutros tempos e do outro lado do espectro, quando os comunistas ainda tinham força democrática para eleger ao menos uma dezena/dúzia de deputados, costumavam arregimentar uma organização satélite denominada partido ecologista "Os Verdes", a quem os comunistas cediam um ou dois assentos parlamentares, fingindo-se passar por uma coligação. Claro que "os (ditos) Verdes" tinham uma história de completa ausência de autonomia: contavam-se pelos dedos das mãos o número de vezes em que, durante toda uma legislatura de quatro anos, os seus dois deputados haviam votado de forma diferente dos seus patrocinadores comunistas. E as divergências nunca eram frontais: se uns haviam votado contra, os outros haviam-se abstido... A paródia de autonomia era tal que "os Verdes" eram designados em surdina e para paródia como "as melancias": eram verdes no nome e na denominação, mas vermelhos por dentro e substantivamente. As melancias eram encabeçadas - creio que ainda o são - por uma senhora simpática - e boa parlamentar - chamada Heloísa Apolónia. E foram uma organização que nunca existiu para além da coreografia parlamentar.
O que nos trás de volta à fotografia inicial, ao CDS, a Nuno Melo que o dirige (embora seja bem menos simpático do que Heloísa Apolónia), à fotografia que o exibe orgulhoso a mostrar a placa do gabinete atribuído à parelha de deputados que elegeu nas listas do PSD e ao facto de estarem condenados os dois - líder e partido - a tornarem-se também em coisas que não têm qualquer existência autónoma para além da coreografia parlamentar. Neste caso não haverá frutas correspondentes para as identificar, mas uma caneca azul forrada a cor-de-laranja transmite a ideia daquilo a que estou convencido a que o CDS está reduzido...

O MASSACRE DE COLUMBINE

(Republicação de um poste original de 20 de Abril de 2017, quando o Massacre de Columbine cumpria o seu 18º aniversário)
20 de Abril de 1999. Ao 18º aniversário do Massacre de Columbine pode associar-se o simbolismo de 18 anos ter sido a idade, não apenas dos dois autores do massacre, mas também de uma apreciável percentagem das vítimas (13 mortos e 21 feridos). Terão sido as elevadas consequências desta tragédia que terão provocado uma atenção mediática redobrada para o assunto dos tiroteios nas escolas norte-americanas. Foi aliás na sequência de Columbine que os serviços secretos foram encarregues de redigir um relatório sobre a questão, um relatório que se tornou público em 2002 e que compilava e procurava sintetizar um retrato padrão a partir das experiências recolhidas em 37 episódios semelhantes... Ora 37 é, para estas circunstâncias, um número assustador. Mas reconheça-se que os factos continuarão a interessar mais o público do que propriamente aquilo que os causou, pelo menos se atendermos à lição directa e concreta que se pode extrair da página da Wikipedia dedicada ao massacre de Columbine, onde os 27.000 caracteres dedicados à descrição metódica e detalhada de como ocorreu o massacre representam o triplo dos 9.000 onde se procura inventariar e especular posteriormente sobre quais terão sido as motivações e as causas para ele ter ocorrido.

19 abril 2024

ELE HÁ INQUÉRITOS ONDE INSEREM QUESTÕES MUITO ESTÚPIDAS!...

Ontem o jornal Público apresentou o resultado de um estudo «realizado pelo ISCSP/CAPP», estudo esse do qual conseguiu extrair um título jornalisticamente pujante, o qual podemos apreciar acima. Em síntese, aquilo que os jornalistas preferiram destacar é que, mesmo que se tenha apurado uma «maioria (a considerar) que (a) democracia é "preferível"», se - e aqui o destaque vai para a existência de uma palavra a funcionar como conjunção subordinativa condicional - não houvesse eleições, «47% apoiariam "um líder forte"». O que se poderá deduzir é que quase metade das pessoas inquiridas não verá razões para terçar armas pela existência de uma Democracia. É uma conclusão interessante sobre a nossa sociedade, cinquenta anos depois do 25 de Abril. Mas também é notório que quem seleccionou o título se esqueceu de mencionar em título que «a maioria» que refere é «esmagadora»: «87%». Talvez esse número fosse pertinente, conjuntamente com o 47%, embora o título saísse menos apelativo... e provavelmente chamasse menos leitores.

Mas o tema que me levou a postar é outro. Relaciona-se com aqueles gráficos que os artigos deste teor normalmente publicam em ilustração, para lhes conferir uma certa densidade. Como acontece neste caso concreto, frequentemente aquilo que os gráficos mostram consta das explicações do próprio texto: portanto, os gráficos são redundantes. Mas serem redundantes não constitui problema. Serem estúpidos - como acontece com o exemplo que seleccionei acima - isso é que é um problema. O gráfico em causa apresenta três cenários que só na aparência são alternativos:
a) Ter um sistema de governo democrático
b) Ter um governo de um líder forte
c) Ter um governo de especialistas

Ter um sistema de governo democrático percebe-se em que consiste. Ter um governo de líder forte já não, porque não está explícito qual é a legitimidade do líder forte. É que, se não tiver sido a legitimidade democrática que o tornou líder, a palavra forte naquele contexto será apenas um eufemismo para evitar empregar o adjectivo autocrático: líder autocrático. Mas, ainda assim, e apesar da manipulação do vocabulário, reconheço que um sistema de governo em ditadura (b) é uma alternativa a um sistema de governo democrático (a).

O que eu não percebo é de onde aparece a hipótese (c): que raio é ter um governo de especialistas em alternativa às duas opções anteriores? Tudo dependerá da legitimidade democrática de quem tiver formado esse tal governo de especialistas. Se a tiver - legitimidade democrática - então aí, tudo bem, alínea a); se não tiver, tudo mal, alínea b). E, já agora, para além de não ser uma terceira alternativa e voltando mais uma vez às questões do vocabulário: em que é que consiste um governo de especialistas? Querem ver que os investigadores do «ISCSP/CAPP» são daqueles otários que estarão convencidos que o âmbito das intervenções de um governo se pode circunscrever apenas aos aspectos técnicos das respectivas pastas? Se fizerem apenas isso, os ministros não estão a desempenhar o papel de ministros... Os ministros fazem opções políticas.

Por muito estúpidas que sejam algumas das questões colocadas, como é costume, segue-se a publicação da ficha técnica do inquérito...

É VOCÊ QUE SÓ TEM UMA «VAGA IDEIA» DE ONDE FICA O LAOS?...

Não faz mal que só tenha essa «vaga ideia» da localização do Laos. A 19 de Abril de 1964, há precisamente sessenta anos, havia lá ocorrido um golpe de Estado e, porque o leitor de então teria precisamente o mesmo problema de não saber onde é que aquilo ficava, o jornal recorrera ao expediente de publicar discretamente um mapa que ajudasse o leitor a perceber de que país se tratara. Não é que o Laos fosse muito importante em si. Não era em 1964 e continua a não ser em 2024. A ignorância do leitor era desculpável. A questão colateral é que o Laos fazia fronteira com o Vietname e, aí sim, havia um embrião de guerra em que os Estados Unidos se preparavam para se envolver, que seria o que tornava o assunto noticiosamente interessante. Agora, tanto o país como o resto da Indochina quase desapareceram do noticiário internacional, e desde que lhe façam a pergunta à queima-roupa, suponho que nem o Nuno Rogeiro sabe quem manda no Laos (uma ditadura comunista).

18 abril 2024

A DECISÃO DO TRIBUNAL DA RELAÇÃO SOBRE A OPERAÇÃO «INFLUENCER» E UM PORMENOR A RESPEITO DA MESMO QUE SÓ NÃO TERÁ TIDO IMPORTÂNCIA PORQUE A DECISÃO FOI COMO FOI

Ontem o dia noticioso foi enriquecido pela publicitação de uma notícia respeitante a uma decisão tomada por um colectivo de juízes do Tribunal da Relação a respeito da denominada operação «Influencer» (1). O conteúdo da decisão é condenatório de qualquer das partes, mas é-o sobretudo da conduta do Ministério Público, como certas passagens do texto aparecidas em publicações conotadas com os socialistas não deixavam de acentuar (2). Robustecendo a manobra política, apareceram os tradicionais peões de brega do Partido Socialista exigindo as explicações que nem a própria Ana Catarina Mendes estará à espera de ver satisfeitas (3). São os papéis de parva a que algumas pessoas se prestam... Há um pormenor que, apesar de publicado (4), parece ter escapado à própria comunicação social que se prestou a colaborar na cena: a identidade dos três juízes responsáveis pela decisão. Que a votaram por unanimidade. As outras duas, incluindo a juíza relatora, serão desconhecidas do grande público, mas o «1º Adjunto» é o juiz-desembargador Rui Miguel Teixeira, um "inimigo de estimação" do PS desde os tempos da prisão de Paulo Pedroso (5), episódio já aqui evocado.

Este é um daqueles casos em (não) aconteceu o que (não) aconteceu, porque a decisão judicial se ajusta aos desejos e expectativas dos actores políticos (socialistas). Não tivesse sido assim, ou talvez mesmo, tivesse o juiz Rui Teixeira votado noutro sentido, e fica-me aquela certeza - a 99% - que a identidade do desembargador (e a sua posição discordante) teriam sido um dos elementos em destaque do circo informativo de ontem. É por isso, que vale a pena ter sempre presente que, por muito que procuremos estar informados, há certas informações que só sabemos se for importante para uma das partes que as saibamos. Esta, até dei por ela...

O NASCIMENTO DA REPÚBLICA DA IRLANDA

18 de Abril de 1949. À meia noite do Domingo de Páscoa (que calhou a 17 de Abril), mas com a pompa e a circunstância que as imagens acima e abaixo exibem, a Irlanda torna-se uma república e, ao fazê-lo, corta os últimos laços que ainda a ligavam à Commonwealth. Os estatutos de então atribuíam ao monarca britânico - então Jorge VI - as funções de chefe de Estado de todos os países membros da comunidade e esse mostrara-se um aspecto nevrálgico para o nacionalismo irlandês, que sempre se mostrara relutante em o aceitar desde Dezembro de 1921. Quis a ironia da História que o Reino Unido tivesse que, posteriormente, vir a abrir mão da cláusula e aceitasse repúblicas na Commonwealth. Elas agora são uma ampla maioria (36) entre os 56 membros actuais da Commonwealth. Mas a Irlanda não voltou a reingressar na organização.

17 abril 2024

TINHA QUE SER MESMO O PAULO NÚNCIO?...(2)

O desacerto dos critérios de quem deve sair em defesa de quem neste governo parece-me tal, que, se daqui para amanhã se colocar alguma questão a algum governante sobre a seriedade das suas qualificações académicas, não afasto a hipótese que o melhor que o PSD arranjará é escolher Miguel Relvas para sair em defesa do visado... Não regressou já ele absolvido ao circuito do comentário televisivo?

TINHA QUE SER MESMO O PAULO NÚNCIO?...

Dá para ver que a forma como o governo está a reagir politicamente à questão - magna - do IRS está a ser profusamente criticada, as últimas críticas incidem sobre a ausência do ministro das Finanças no debate de urgência no parlamento solicitado pelo PS. Pragmaticamente, poder-se-ia dizer que, se Miranda Sarmento não estiver, ao menos não estraga. Mas, pelos vistos, há pelo parlamento quem consiga estragar por ele, ao mandar avançar Paulo Núncio para «sair em defesa de Montenegro». Núncio foi secretário de Estado dos Assuntos Fiscais dos governos de Pedro Passos Coelho (2011/15). E, porque estas coisas muitas vezes se esquecem, vale a pena recordar a opinião do actual inquilino do Palácio de Belém, opinião essa emitida já em Março de 2015, portanto no final do seu desempenho: Vale zero em termos de autoridade política. É apenas a opinião do presidente da República - que até nem vale grande coisa nos dias que correm - mas eu acho que Luís Montenegro é que devia ter lá estado no parlamento, para sair em defesa de Paulo Núncio... Isto assim parece a anedota do cego a puxar o coxo para fugirem os dois dali a correr...

NENHUMAS, MAS EM AMARELO...

Quando nos questionamos sobre as hipóteses de sobrevivência do actual executivo, a resposta mais adequada de que me recordo vou buscá-la a um imaginativo cartaz de que me lembro, exibido em 2016 por altura do referendo sobre o Brexit, e que exibia um gráfico sobre as chances de que o Brexit tivesse um bom desfecho. Como a política moderna parece ser feita tendo em conta a coreografia e não a essência das questões, a paródia do autor do cartaz terá sido desenhar um gráfico colorido em que todo ele representava o mesmo desfecho, mas em que havia uma fatia do gráfico que aparecia pintada de amarelo. Não havia quaisquer hipóteses que o Brexit tivesse um bom desfecho, como se veio a comprovar, mas, ao menos, o gráfico do cartaz não tinha uma aparência deprimente... Quando ouvi Luís Montenegro anunciar no princípio deste mês que o seu governo viera «para governar quatro anos e meio» instintivamente pensei na foto acima e ocorreu-me como o orador resolvera pintar aquela parte do seu discurso de posse de amarelo...

UM DOS RIVAIS DE SALAZAR NAS CONTAS EQUILIBRADAS...

17 de Abril de 1934. Neville Chamberlain, que era na época o chanceler do Tesouro (ministro das Finanças) britânico, apresenta o seu orçamento para 1934 - representado simbolicamente pela mala que o vemos a empunhar na fotografia acima. Quanto ao conteúdo daquele orçamento, há o desapontamento dos norte-americanos (à direita) por nada ter sido providenciado em termos da amortização das dívidas de guerra que os britânicos haviam contraído em 1914-18. Contudo, e como se pode comprovar abaixo, o chanceler mostrava-se particularmente orgulhoso pelo facto do seu orçamento prever um superavit de 796 mil libras. Aquela foi uma época em que, não apenas em Portugal com Salazar, esteve na moda aparecerem políticos que se exibiam apresentando contas públicas equilibradas. Neste caso do Reino Unido foi uma infelicidade para eles, pois Chamberlain acabou sendo promovido, em Maio de 1937 ao seu nível de incompetência de Peter, o de primeiro-ministro.
Entretanto por cá e na mesma altura, predominava a impressão (ignorante e provinciana) que Salazar era figura única e sem rival, era o mago das finanças. Ora, como se percebe, houve vários outros magos: Chamberlain também endireitou as finanças do Reino Unido. Aquilo em que, paradoxalmente, Salazar o supera é em política externa: foi um campo em que, ao contrário do seu colega britânico e tendo tido a sorte do seu lado, o português nunca se mostrou ingénuo.

16 abril 2024

O HOMEM A QUEM SEMPRE PARECEU QUE ACONTECERA NÃO SE SABE BEM O QUÊ

Republicação a propósito do anúncio que António Lobo Xavier irá abandonar o programa de comentário O Princípio da Incerteza na CNN. Foram 30 anos a emitir opiniões que nunca se sabiam lá muito bem quais eram... Este episódio, mais descarado do que os demais, é de Novembro de 2021, onde António Lobo Xavier dispende oito minutos para não indicar qualquer data ou um período sequer para a marcação das próximas eleições legislativas conforme lhe fora perguntado por Carlos Andrade. Não se pode dizer que seja um estilo que me deixe muitas saudades...
Dispenso-me de apresentar aquele que é um dos momentos mais emblemáticos dos Gato Fedorento - o gag «O homem a quem parece que aconteceu não sei o quê»: um monólogo protagonizado por Ricardo Araújo Pereira durante quase um minuto e meio em que ele consegue encadear palavras e lugares comuns conhecidos de todos, mas em que acaba por não dizer nada de concreto. No princípio do programa Circulatura do Quadrado (TVI) desta semana tivemos a oportunidade de assistir a uma reedição daquela paródia, só que protagonizada por António Lobo Xavier, com uma duração muito superior (oito minutos!) e num programa que seria para ser supostamente sério(?). Abaixo, dei-me ao trabalho de transcrever toda essa intervenção de António Lobo Xavier para mostrar o «nada sonoro» que é proferido. Mas em síntese, Carlos Andrade pergunta a Lobo Xavier «qual era para ele a melhor data para» a marcação das próximas eleições e este passa os oito minutos seguintes sem adiantar uma, ou duas ou mesmo três datas possíveis. É obra falar tanto tempo sem responder a uma pergunta tão concreta. Mas que isso seja uma lição também para José Pacheco Pereira (abaixo, a sorrir-se da "não sei o quê" que está a acontecer ao seu companheiro de programa...) para ele entender porque é que os programas em que ele participa se confundem tão facilmente com aquilo que ele denomina, com desprezo, por «engraçadismo».
- Pergunto-lhe, António, qual é para si a melhor data para que o país escolha novos deputados?
- Oooh, Carlos, em primeiro lugar quando o Carlos anuncia que eu vim do conselho de Estado, no conselho de Estado não se discutiu datas. O assunto não estava em cima da mesa. Referências a calendários, com certeza, mas o assunto não estava em cima da mesa. A data das eleições é uma prerrogativa do presidente da República. Não tem que consultar o conselho de Estado sobre a data e portanto é um assunto que ele tratará na sua solidão depois de ponderadas todas as circunstâncias, e portanto...
- Mas o António tem opinião sobre a data...
- Eu tenho e até já a disse. Eu já disse que há uma série de aspectos a ter em conta. Os aspectos a ter em conta são... têm a ver com uma série de circunstâncias. Em primeiro lugar, obviamente, um presidente da República ponderado que quer uma participação no acto eleitoral e que quer pluralismo e discussão e debate tem de ter em atenção que os períodos de Natal e de Ano Novo não são períodos favoráveis, por exemplo, à realização de debates. De debates televisivos. Agora em Portugal normalmente as eleições são precedidas de debates. Uma série de debates televisivos, que são até sorteados. Esses debates saem fora da campanha eleitoral, são antes da campanha eleitoral, e é preciso ponderar que, de facto, para o estilo de vida dos portugueses, não há propriamente uma vontade de participação e de atenção no período que vai entre o Natal, ou a proximidade do Natal, e o Ano Novo, não há uma predisposição para a política. E isso é importante, mesmo numa democracia adulta. É importante porque as democracias (e em Portugal também) combatem o indiferentismo, a abstenção e portanto é importante que os responsáveis combatam isso. É o primeiro aspecto, é um aspecto de calendário civil. Depois, é preciso, enfim, há um mínimo de ponderações, os prazos são..., são..., no meu ponto de vista é um prazo muito grande, prazo para apresentação para listas, ahm, de candidatos a deputados tem uma antecedência em relação às eleições muito grande, não seria precisa tanto, quarenta dias, parece-me um exagero, mas portanto há certas datas, quando começamos a construir a partir de datas possíveis para trás, percebemos que o risco das coisas... calharem no Natal ou na época do Natal... é uma coisa desnecessária, sobretudo se se puder evitar. Há também discussões internas nos partidos com diferentes incidências e diferentes regras e diferente premência...
- Esse deve ser um critério?
- Não é um critério. Não estou a dizer que deve haver um critério, estou a dizer que deve haver indicadores para que é forçoso olhar. Os partidos políticos são fundamentais à democracia, e o funcionamento dos partidos e os próprios partidos em si têm dignidade constitucional. Portanto, todos nós conhecemos da história das dissoluções a preocupação dos presidentes com a solução possível pós-eleitoral e, portanto, os partidos é que têm de se adaptar ao calendário do presidente da República que obviamente é o calendário político-constitucional mas, alguma coisa é preciso perceber de reuniões ou de congressos ou de processos de decisão que estejam em curso e que portanto tudo isso é preciso ter em conta. Depois é preciso ter em conta talvez o aspecto mais importante que é... o fundamento concreto do presidente da República. Nós... (às vezes esquecemo-nos, mas estas coisas têm significado) é a primeira vez que uma proposta de orçamento é chumbada (como se diz na linguagem corrente) na generalidade, é a primeira vez que isso acontece, nenhum governo viu no..., no..., na democracia portuguesa isso acontecer... primeiro lugar..., e em segundo lugar também nunca aconteceu (o que é uma decorrência da primeira) ver uma dissolução da assembleia da República por causa de uma reprovação de um orçamento. E a justificação do presidente da República, em geral..., portanto já se conhece pelo que leio nos jornais o resultado final do pronunciamento dos conselheiros..., o conselho de Estado também alinhou maioritariamente nesse ponto de vista... o ponto de vista do presidente da República é que neste caso concreto, embora em geral não se aponte para a derrota da proposta de orçamento como levando necessariamente à dissolução da assembleia, o ponto de vista do presidente, como ele tem mostrado, é que este especial momento e este especial orçamento é que justificam a sua intervenção e o aviso prévio que fez à navegação. Para terminar, Carlos, este momento para o presidente é este momento da saída da pandemia e do começo da recuperação económica e de uma série de projectos ligados a isso. Este orçamento é um orçamento que obviamente devia estar disponível para a realização desses projectos e o apoio a essa retoma económica. E portanto são todas estas coisas que têm de ser ponderadas que levam a que as eleições não possam ser amanhã, não façam sentido que sejam daqui a quinze dias...
- Tudo isso somado... apontaria o António para que data?
- Não apontaria, não faço isso ao presidente da República.
- Ele não tem que seguir a sua indicação...
- A minha indicação é uma indicação mais favorável a mais tempo... do que o pouco tempo que vejo alguns quererem... mas não tão generosa...
- Consegue balizar?
- Consigo. Acho que isso é possível. Não vou agora fingir-me de anjo. Boa parte dos partidos, com os seus interesses legítimos, apontam para meados de Janeiro. Do meu ponto de vista, e são factos, isso implica que acaba a fazer campanha, ou pelo menos debates televisivos, durante a missa do galo. Portanto isso é negativo. E portanto acho que deve haver mais tempo do que isso. E portanto qualquer data que se chegue mais a Fevereiro seria sempre uma data mais razoável, mas, como digo, os partidos é que têm de se adaptar à situação política. O presidente deve ter em conta estes indicadores que referi. Percebo a lógica do tempo. Em vários tempos de dissolução os presidentes da República deram até muito tempo (muito mais) mas as razões desta dissolução apontam para uma maior contenção. Tem que haver aí um certo equilíbrio. Equilíbrio é no meio. Portanto é isso que eu lhe posso dizer, Carlos.

O ÚLTIMO RETOQUE NA «TEIA» DE TRATADOS DE AMIZADE E COOPERAÇÃO DO LESTE EUROPEU

Praga, 16 de Abril de 1949. Como dá conta a notícia do New York Times, Antonin Zapotocky pela Checoslováquia (à esquerda) e Istvan Dobi pela Hungria (à direita) assinavam naquela cidade um daqueles tradicionais tratados de amizade e cooperação que os países comunistas costumavam assinar entre si durante o período da Guerra Fria. Como o jornal americano fazia questão de frisar, este era o vigésimo primeiro e último tratado de uma rede de tratados do mesmo género que interligavam entre si a União Soviética e os seis países - o jornal empregava a expressão "democracias populares" entre aspas - do Leste da Europa. De fora, ficara apenas a Albânia e a Finlândia, concluía-se no jornal. Na Primavera de 1949 e ao mesmo tempo da constituição da NATO, aquele que costuma ser denominado por Bloco Leste - a esfera de influência russa até ao centro da Europa - estava tão formalmente definido quanto o seu rival ocidental. O exercício argumentativo a que os comunistas muito tempo se dedicaram a invocar depois disso, que o Pacto de Varsóvia só havia surgido seis anos depois da NATO, é apenas isso: um exercício argumentativo. Como se percebe aqui, os blocos já estavam claramente formados em 1949: a constituição do Pacto de Varsóvia em Maio de 1955 é apenas a criação de uma organização militar simétrica à NATO.