05 agosto 2019

A (VERDADEIRA) GRANDE EVASÃO

Os filmes de evasão tornaram-se um subgénero dos filmes de guerra produzidos após (e a propósito) da Segunda Guerra Mundial. Um conjunto de prisioneiros aliados ousados e determinados promove uma espectacular evasão do campo de prisioneiros para humilhação dos seus carcereiros alemães. A Grande Evasão, filme de 1963, e de que acima se pode ver o trailer, terá sido um dos maiores senão mesmo o maior sucesso de bilheteira do subgénero. Os produtores reclamavam que o enredo se baseava em factos verídicos, mas a verdade é que a Grande Evasão, ou pelo menos a maior evasão de prisioneiros de guerra registada durante a Segunda Guerra Mundial não se lhe assemelhou em nada: não envolveu prisioneiros aliados nem ocorreu na Alemanha nazi. 5 de Agosto de 1944. Foi do outro lado do Mundo, na Austrália, que, por volta das 02H00, 1.100 prisioneiros de guerra japoneses promoveram uma gigantesca evasão no campo de prisioneiros que o exército australiano mantinha em Cowra. Cowra, uma cidadezinha hoje com 10.000 habitantes por causa das suas vinhas, à época era um lugar esquecido do interior (outback) do estado de Nova Gales do Sul, a 310 km da capital, Sidney (veja-se o mapa abaixo). Ao contrário dos enredos das evasões dos filmes, esta não se processou de forma dissimulada: foi ao toque de um clarim que massas de centenas de prisioneiros avançaram decididamente para três locais das vedações dispersos, aos gritos de banzai. Os tiros das sentinelas não conseguiram desbaratar as cargas suicidas simultâneas de centenas de homens que, com ferramentas improvisadas e usando cobertores, derrubaram as cercas de arame farpado. Para complicar mais as operações, os evadidos haviam pegado fogo às instalações. Quando se pensa em quais podiam ser os objectivos dos foragidos eles apresentam-se absurdos. Muito pior do que acontecia com os prisioneiros aliados na Alemanha, onde o problema principal quando foragidos era a língua, os prisioneiros japoneses não conseguiam de nenhuma forma passar desapercebidos numa Austrália que era povoada naquelas paragens exclusivamente por europeus e aborígenes. A costa, o único sítio por onde poderiam escapar, estava a 300 km de distância. Mais do que isso, e ao contrário do que acontecia na Europa com a Suíça e a Suécia, não existiam quaisquer países neutrais para onde os foragidos pudessem ir em busca de refúgio. A iniciativa, que envolveu uma boa metade dos 2.200 prisioneiros de guerra japoneses detidos à época pelos australianos, parece ter sido tomada mais como ponto de honra da intenção do que dos resultados: todos os prisioneiros vieram a ser recapturados nos dez dias seguintes à fuga, mas a evasão veio a custar a vida a 231 japoneses e 4 australianos, vários dos prisioneiros suicidaram-se aquando da perspectiva quase certa da recaptura. Tratou-se de uma grande evasão, mas nela morreram cerca de 20% dos participantes.

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