23 outubro 2018

O REFERENDO DO SARRE (1955)

23 de Outubro de 1955. Por uma segunda vez em vinte anos, os habitantes do Sarre recusam nas urnas uma proposta para que a sua região fosse neutralizada como uma espécie de estado tampão entre a França e a Alemanha. Os franceses sempre haviam sido grandes adeptos dessa ideia da criação de uma espécie de Luxemburgo II, à custa daquela região hulhífera, depois das derrotas da Alemanha nas duas guerras mundiais. Em 1935, quando da realização de um primeiro referendo, os habitantes do Sarre haviam votado esmagadoramente (91%) pelo regresso à Alemanha, oferecendo a Adolf Hitler um grande momento de propaganda. Vinte anos depois os franceses haviam aprendido as suas lições e, antes de consultar directamente o povo local, haviam-se segurado com a assinatura de um estatuto para a região previamente firmado com o governo alemão. A questão já não se punha na opção entre a Alemanha e a França, o que era perguntado era a opinião popular sobre o estatuto, que fora elaborado no Quay d'Orsay à medida dos desejos franceses. Mas, nem mesmo assim a coisa funcionou. Quando submetido a voto, o que aconteceu há precisamente 63 anos, a rejeição da população foi robusta e inequívoca (68%).
Como se pode apreciar pela ampla cobertura dada pelos jornais da época, o resultado foi acolhido num clima de pesar e apreensão, atitude que hoje se torna incompreensível. Embora aqui se tratasse apenas de uma ampla manobra diplomática e estratégica da França que falhara e do facto do Sarre tornar a integrar-se numa Alemanha de que historicamente sempre fizera parte, a Segunda Guerra Mundial acabara há apenas dez anos e os alemães ainda não podiam ser considerados um povo europeu como os outros. Eram - e assim permanecerão pelo menos até 1989 - pessoas de desconfiar. De toda a forma, o Sarre voltou a fazer parte da Alemanha em 1 de Janeiro de 1957. Foi a Kleine Wiedervereinigung (pequena reunificação, em contraste com a de 1990). E, valha a verdade, algumas imagens das celebrações da ocasião, o cantar da Deutschlandlied, o desfilar nocturno à luz das tochas, ainda hoje deixam aquela impressão que, apesar de tudo, os alemães continuam a ser algo sinistros nas suas celebrações...

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