12 fevereiro 2018

NADA ESTÁ DEFINITIVAMENTE ASSEGURADO ATÉ JOÃO MARQUES DE ALMEIDA ANUNCIAR O SEU FIM

Acredito que até a própria Angela Merkel, desconsolada com o arrastar das negociações para a formação do governo, já andasse a pensar em meter os papéis para a reforma, quando recebeu esta informação do embaixador alemão em Lisboa de que João Marques de Almeida profetizara o seu fim no Observador. Por essa Europa fora, há poucas demonstrações de argúcia política mais convincentes do que um vaticínio de João Marques de Almeida, o homem que vaticinou que Marcelo não se candidatava mas que, se o fizesse, perdia, o homem que vaticinou que não havia maioria de esquerda para a geringonça governar, o homem que, enfim, antecipou o fim do Bloco de Esquerda (abaixo) com a mesma assertividade como hoje antecipa o fim de (uma reconfortada) Angela Merkel. Se o panorama é agora de que vamos ter Merkel para durar mais uns anos, em contrapartida quem se devia aposentar eram cronistas como Rui Zink ou Miguel Esteves Cardoso, que têm a mania que têm piada, mas que nada os consegue fazer sair da sombra do incomparável humor irónico de João Marques de Almeida, que antecipa uma coisa, quando pensa precisamente o contrário...
Falando agora a sério, o meu texto anterior recupera um tema já aqui abordado, o mistério que envolve a manutenção do destaque a cronistas que só escrevem baboseiras. Não é apenas o facto de se enganarem, que isso até pode acontecer frequentemente. É o facto de se enganarem muito. E enganam-se muito porque os seus textos são de uma superficialidade confrangedora. Neste caso concreto do que João Marques de Almeida possa pensar da situação política alemã, ele faz figura de touro a ser levado pelas chocas no fim da corrida: só dá destaque aos tópicos para onde apontam os holofotes. O actual impasse político não envolve apenas a CDU, a CSU e o SPD. Antes, tinha havido uma tentativa de formar uma coligação com Liberais e Verdes, a Jamaika Koalition. Foi no ano passado, é verdade, mas não foi propriamente no século passado, para que o assunto agora pareça ter desaparecido de agenda e nem sequer tenha sido mencionado na crónica. Porque é que o SPD tem responsabilidades na sustentação de um governo para a Alemanha que o FDP e os Verdes não quiseram ter? Ou então, porque é que a CDU está disposta a fazer concessões ao SPD que não fez aos outros dois? A quem a responsabilidade da CDU ostracizar à partida a AfD como parceiro de coligação? Os holofotes parecem apontados para que o problema seja do SPD, uma narrativa de um confronto entre as bases do partido e as suas elites, corporizadas na pessoa de Martin Schultz, a raiz do mal: «Pior do que tudo, Schultz prometeu que nunca serviria num governo liderado por Merkel. Quis mudar de ideias, mostrando que a sua palavra nada vale.» É tudo demasiado maniqueísta e superficial para poder ser levado a sério. Que relações misteriosas perpetuam este gajo a escrever para aquele, para qualquer jornal?


Nota adicional: Vale a pena ler o primeiro comentário na caixa abaixo. Não sabia o que lá aparece escrito porque não sigo atentamente tudo o que o cronista escreve (há limites de paciência para nos dispormos a ler disparates), mas não me surpreende de todo.

1 comentário:

  1. Se contar que o cronista previa, há cerca de um mês, a vitória de Pedro Santana Lopes, que rotulava de estadista de futuro, antes de confessar, já depois das eleições no PDS, que integrava a equipa do mesmo Santana.

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